Um passeio pela Feira Internacional do Livro de Buenos Aires. Por Luísa Gadelha

Atualizado em 7 de maio de 2016 às 14:57
Pela manhã, antes da abertura da feira
Pela manhã, antes da abertura da feira

Recentemente, tive a oportunidade de visitar a 42ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires. Fiquei impressionada com a estrutura e organização do evento e com a quantidade de visitantes.

Funcionando no La Rural, um grande centro de convenções situado no bairro de Palermo, e comportando nove pavilhões com estandes de editoras, temáticos e de outros países, a Feira começou no dia 21 de abril e se estende até 9 de maio. Contará com a visita de vários escritores, dentre eles os ganhadores do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa e J. M. Coetzee e a poetisa brasileira Camila do Valle.

Um jornal diário é distribuído gratuitamente com o cronograma de apresentação de livros, conferências, debates, espetáculos, mesas redondas, cursos, homenagens, entre outros. Além dos estandes, há salas de conferências, exposições, cafés e food trucks estacionados nas áreas abertas do centro.

Selfie com Snoopy
Selfie com Snoopy

Confesso que um dia não é o suficiente para aproveitar tudo o que a feira tem a oferecer. Apenas um passeio pelos estandes toma uma tarde inteira. O que me chamou atenção foi a extensa programação voltada para jovens e crianças; inclusive, ônibus chegavam a todo momento com alunos e alunas de escolas do interior da Argentina.

Fora dos pavilhões, nas grandes áreas arborizadas, atividades lúdicas para crianças e uma biblioteca em forma de ônibus, a Bibliomovil, do Congresso da Nação. Dentro, um corredor repleto de livros, com banquinhos para leitura.

No dia em que eu estava lá, houve uma contação de histórias dos livrinhos da Coleção Antiprincesas. A coleção também foi lançada no Brasil e, voltada ao público infantil, conta a história de mulheres inspiradoras e vanguardistas como Frida Kahlo e Violeta Parra. Também houve destaque para a cultura das graphic novels, que me pareceu bem popular entre o povo argentino, com dezenas de estandes vendendo hqs, mangás e acessórios nerds.

Um dos vários estandes de quadrinhos
Um dos vários estandes de quadrinhos

Além das editoras tradicionais, havia estandes representando alguns países e sua literatura, como Japão, Ucrânia, Itália, Uruguai, entre outros. Vi muitos livros em árabe também. No estande do Brasil, apesar de poucos livros à venda, estávamos bem representados com exemplares de Ariano Suassuna e Luís da Camara Cascudo, ambos nordestinos.

O modesto estande do Brasil
O modesto estande do Brasil

Em uma pausa para o café, conversei com duas senhoras argentinas, que estavam na feira a título de curiosidade. Ambas afirmaram apreciar o escritor brasileiro, também nordestino, Jorge Amado, e seu grande romance Gabriela, cravo e canela. Mostraram-se preocupadas com a situação política do Brasil, embora a Argentina também esteja passando por uma grande crise, e comentaram que agora são os argentinos que partem para o Brasil a passeio – não há mais tantos turistas brasileiros por lá.

Um dos grandes homenageados do evento foi Jorge Luis Borges (1899-1986), com a exposição “Borges Universal”, dentre as muitas atividades dedicadas aos 30 anos do desaparecimento físico do autor. Com 127 livros em 25 idiomas, como bengali, coreano e albanês, além de fotografias, cartazes e charges sobre Borges, a exposição demonstra a abrangência mundial do grande escritor argentino. “Queríamos mostrar a diversidade de idiomas que adotaram Borges, para mostrar às pessoas quem ele foi, pois está traduzido em todas as línguas possíveis”, afirmou Alejandro Vaccaro, presidente da Sociedade Argentina de Escritores (SADE). Além disso, os visitantes podem conhecer “frases de grandes escritores, como Umberto Eco, George Steiner, Antonio Tabucchi, Harold Bloom e Mario Vargas Llosa”, numa demonstração de como “os maiores autores contemporâneos que o leram têm uma opinião formidável sobre sua obra literária”.

Exposição Borges Universal
Exposição Borges Universal

Buenos Aires continua sendo uma das cidades com a maior quantidade de livrarias para cada cem mil habitantes. Mesmo as avenidas frequentadas por turistas, como a Florida, possuem livrarias a cada quarteirão, ou quase. Infelizmente, com a inflação, até mesmo os livros lá custavam além do que estamos acostumados a pagar.