Um senhor disse que: “se a Globo o obrigasse a beijar uma ‘negra horrorosa’ como eu, ele lavaria a boca com água sanitária”, conta Zezé Motta

Atualizado em 22 de julho de 2018 às 13:21

Em entrevista a colunista Monica Bergamo, na Folha, a atriz da Globo, Zezé Motta, conta que acredita que o sucesso de pessoas negras no país “incomoda”. “Porque, se você for perguntar pra uma pessoa humilde se ela sabe que vivemos num sistema racista, ela não vai ter essa consciência. Ela vai dizer: ‘Não, imagina! Minha patroa é um amor pra mim. Me dá umas coisas de presente, batizou minha filha.’”

“É claro que não são todos os brancos que são racistas. Eu até fico muito emocionada, quando participo de debates, de ver que isto mudou: antigamente, as discussões sobre racismo eram muito fechadas entre os negros”, continua ela. “Nós temos poucos brancos no Brasil”, diz, rindo, para emendar, séria: “Mas temos tido muitos brancos interessados em discutir o racismo no país”.

Quando participou da novela “Corpo a Corpo” (1984), da Globo, em que fez par romântico com Marcos Paulo, Zezé ficou “em choque” com a reação do público ao casal interracial. “Teve um senhor que disse [em uma pesquisa]: ‘Eu não acredito que o Marquinhos esteja precisando tanto de dinheiro pra estar passando por essa humilhação.’”

“Um outro disse que, se a Globo o obrigasse a beijar uma ‘negra horrorosa’ como eu, ele lavaria a boca com água sanitária”, conta ela, e debocha do insulto, apontando para o próprio rosto: “Olha, tão bonitinha! Ha-ha-ha!”.