“Uma mulher deve despir seu pudor no momento em que tira a saia”: a sabedoria sexual da nora de Pitágoras. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 31 de outubro de 2015 às 6:05

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Tenho que voltar a ler Montaigne.

É o melhor calmante que encontrei na vida.

Tenho na  cabeceira os Ensaios de Montaigne, o grande e tardio filósofo estóico do século XVII. Os escritos de Montaigne foram para mim uma formidável inspiração para lidar com as adversidades O sábio, segundo Montaigne, é quem lida com serenidade com o perpétuo vai-e-vém de elevações e quedas na vida. A obra de Montaigne é rica em exemplos de coragem nos tropeços.

Costumava abrir os Ensaios ao acaso, e ler até dormir as páginas que encontrava sem programar. Sem uma razão objetiva, deixei de fazer isso por meses seguidos, e o resultado foi a perda parcial de sossego.

São dois os escritores que gosto de ler ao acaso da página aberta sem intenção. Montaigne e Proust. As pessoas se assustam com os sete tomos de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. Algumas sonham a vida inteira em ler essa pirâmide literária, mas se intimidam pelo número de degraus.

Proust, como a mulher bonita, fascina e ao mesmo tempo intimida as pessoas. Se elas soubessem que se pode ler Proust em pílulas, teriam a chance de percorrer páginas, ou simples frases, de beleza avassaladora.

Abri outro dia meu exemplar de Montaigne. Várias passagens sublinhadas, ou por lápis ou por caneta. Mas foi uma passagem intocada que me chamou a atenção. Era uma frase atribuída à nora de Pitágoras, o gênio extravagante da matemática. “Uma mulher deve despir seu pudor no momento em que tira a saia, e só voltar a usá-lo quando a vestir de novo.”

A nora de Pitágoras por certo não tinha a inteligência exuberante, extravagante e inovadora do sogro, mas era sexualmente interessante e avançada. Mulheres dos nossos tempos teriam a aprender com ela. Como bem notou Montaigne ao citar a frase, eis um caso de sabedoria eterna.