Uma nova e interminável entrevista com FHC — e nada sobre o caso Mírian Dutra. Ué? Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de setembro de 2016 às 13:33

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Fernando Henrique Cardoso deu uma longa entrevista ao Uol. Foi publicada nesta quarta, 7 de setembro.

Falou, em resumo, de tudo e de todos. Do PT, do PSDB, de Michel Temer, da possibilidade de surgir um Trump no Brasil em 2018, do “absurdo” de se manter os direitos políticos de Dilma. E por aí vai.

Dedicou-se a destrinchar os crimes de seu grande desafeto. Transcrevo um trecho:

FHC trata com ceticismo as explicações de Lula sobre as evidências que levaram a força-tarefa da Lava Jato a indiciá-lo por suspeita de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O ex-presidente tucano descrê, por exemplo, das alegações feitas pela defesa de Lula nos já célebres casos do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá. Lula sustenta que os imóveis, ornados com equipamentos e benfeitorias providos por empreiteiras encrencadas na Lava Jato, não são de sua propriedade. “É difícil colar”, diz FHC. “É difícil porque houve uso reiterado dos bens. É claro que a Justiça vai ter que provar. Às vezes não é fácil provar.”

Para FHC, não se pode descartar a hipótese de Lula ser preso, como qualquer outro cidadão: “Se for verdadeiro o que está dito aí, se for condenado, qualquer um de nós pode. Não é ele, qualquer um de nós. Você, eu podemos ser presos.” O que ocorreria se Lula fosse parar atrás das grades? “Se não houver um esclarecimento muito grande das razões pelas quais vai preso, haverá uma reação dos seus partidários e, provavelmente, de uma parte da opinião pública”, disse.

 

 

Segundo o jornalista Josias de Souza, que conduziu o agradável bate papo, Fernando Henrique estava “tomado pelas palavras” — sabe-se lá que diabo isso significa, mas coisa boa não é.

O combativo e corajoso Josias já escreveu em sua coluna, nesse estilo mezzo parnasiano, que Lula, entre outras coisas, “não gosta de democracia” e Dilma era “dirigida pelo caos”. Não passa uma por seu crivo.

Desta vez, bastante simpático com o interlocutor, conseguiu não tocar no assunto Mírian Dutra. Com bastante tempo à disposição — o vídeo da conversa na íntegra tem 50 minutos, o que significa que pelo menos meia hora a mais foi captada antes da edição —, Josias esqueceu de questionar o ex-presidente, por exemplo, sobre o inquérito que investiga as remessas de dinheiro à ex-amante no exterior.

Elas teria sido feitas através da Brasif, concessionária das lojas duty free nos aeroportos brasileiros. Em abril, Fernando Henrique prestou depoimento à Polícia Federal. Não apresentou recibos das remessas. “Isso não é necessário. Os fatos podem ser comprovados pelo Banco Central”, alegou seu advogado.

À polícia, Mírian, atualmente em silêncio obsequioso depois de uma reaparição bombástica, revelou que recebia 3 mil dólares em espécie periodicamente para bancar a educação do filho Tomás. Nos anos 1990, quando ele ocupava a presidência, o dinheiro era levado por um cunhado a Portugal, onde ela morava.

Vai ver Josias não lembrou. Acontece. Para refrescar a memória, posto abaixo o nosso documentário sobre a história de FHC e Mírian Dutra.