Unidos pelas caneladas: Michelle e Jair foram feitos um para o outro. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 21 de novembro de 2018 às 22:26
Michelle e seu “príncipe”, Jair Bolsonaro. Foto: Agência Brasil

Desde que seu marido foi eleito, Michelle Bolsonaro tem feito aparições destrambelhadas na imprensa.

Ela começou bem: em entrevista ao Domingo Espetacular, afirmou que Jair Bolsonaro não é misógino porque, afinal, é casado com a filha de um cearense (?).

Recentemente, à Rede Super de Televisão, de MG, a futura primeira-dama afirmou que o marido é um príncipe encantado – se este é o príncipe, eu realmente não quero conhecer o vilão dessa história tragicômica.

Ela disse ainda que concorda com a maioria dos posicionamentos do marido, mas não com “a forma com que ele coloca as palavras.” Resumindo: Michelle pensa – e defende publicamente – que marido deveria disfarçar melhor seus absurdos.

Sabe de nada, inocente.

Bolsonaro não só não tem astúcia suficiente para mascarar sua face monstruosa, como insiste em não fazê-lo porque sabe que é justamente o seu lado mais extremo, misógino e violento que conquista o coraçãozinho cheio de ódio de seus eleitores.

Fazer arminha com a mão é, afinal, sua principal e mais eficiente forma de comunicação com seus eleitores, já que ele não compareceu aos debates televisivos.

Aparentemente, para Michelle, a única maneira de Bolsonaro conquistar algum respeito é não dizendo o que pensa: usando melhor as palavras, para no intuito de eufemizar seu senso moral completamente deturpado.

Ela faz parte da parcela considerável de eleitores do coiso que votaram nele justamente por não acreditarem em sua autenticidade: “ele diz isso da boca pra fora”, justificam.

“Ele não vai ter coragem”, consolam-se, para atenuarem para si mesmos a culpa de terem posto um neofascista na presidência. Saudades de quando o eleitorado só acreditava em candidatos que acreditavam no que eles mesmos diziam – ops, acho que essa época nunca existiu.

A performance de Marcela Temer como primeira-dama professoral nos refrescou a memória quanto ao primeiro-damismo caricato:  a primeira-dama bela, recatada e do lar, que tem sua imagem de bondade e caridade milimetricamente construída como joguete de marketing para corroborar com uma boa reputação do marido.

O homem é o sujeito, a mulher é o Outro – desde Simone de Beauvoir, isso jamais mudou.

Entretanto, enquanto Marcela fazia questão de manter a boca fechada e não se envolver em polêmicas, Michelle fala muito e parece ter dificuldades em se fazer entender.

Ao dizer que o marido deveria medir as palavras, escancara o que para muitos de nós é óbvio: seu discurso é violento e deveria assustar quem se auto intitula “cidadão de bem”.

Não é só por não saber usar as palavras que o príncipe encantado da ingênua Michelle Bolsonaro peca: sua existência, como um todo, é um grande erro. Deus me livre dos príncipes encantados das mulheres da alta sociedade.