Unificação do IR proposta por Paulo Guedes criaria ‘apartheid social’. Por Carol Scorce

Atualizado em 20 de setembro de 2018 às 16:55

Publicado no Carta Capital

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Foto: Marcos Alves / Instituto Millenium | Montagem

Ao discursar para uma plateia restrita, composta essencialmente por especialistas em grandes fortunas, o economista Paulo Guedes, responsável pelo projeto econômico da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que pretende criar um imposto de renda único, com alíquota de 20% para todas as pessoas, sejam físicas ou jurídicas.

Isso significa que, se a proposta for aprovada, o trabalhador que ganha 1.500 reais, o que ganha 8 mil reais ou o empresário que fatura 150 mil por mês pagarão o mesmo imposto de renda de 20%.

Na mesma linha, Guedes disse também que pretende eliminar a contribuição patronal para a Previdência, que tem a mesma alíquota de 20% e incide sobre a folha de pagamentos.

Pedro Rossi, economista da Universidade de Campinas (Unicamp), afirma que a proposta de Guedes é contrária ao princípio da progressividade da carga tributária. No Brasil, hoje, quem ganha até 1.900 reais está isento do IR. A partir daí o IR retido nos salários é cobrando por faixas que vão de 7,5% a 27,5%, cobrados de ganhos a partir de 4.664 reais. Ou seja: o IR ficaria mais caro para quem ganha menos e menor para os salários ou rendimentos maiores.

“Se isso acontecer no Brasil vai ser um escândalo A carga tributária como um todo já é muito regressiva porque ela é baseada em impostos indiretos. O IR é um dos componentes mais progressivos da nossa carga tributária. É um claro aceno da campanha de Bolsonaro aos mais ricos”, afirma o economista.

Rossi afirma ainda que a proposta irá aumentar a desigualdade social no Brasil, na medida em que faria com que os brasileiros que ganham menos perdessem renda, ao mesmo tempo que tira das políticas tributárias sua capacidade de distribuir a renda e promover o investimento social necessário.

“O projeto do Paulo Guedes é o do (presidente Michel) Temer ao quadrado. Fundamentalista e neoliberal. Teria ou terá um efeito catastrófico em uma sociedade desigual como a nossa. Vamos tender para o apartheid social. É insustentável”, acredita o economista.

Logo após as declarações de Paulo Guedes – cotado a assumir o Ministério da Fazenda no caso de Bolsonaro vencer as eleições irá – o candidato publicou em uma de suas redes sociais que sua  “equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso lema!”.