“Usei um pirulito nas cenas de sexo oral”: Amanda Seyfried e a história de “Lovelace”

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:39

Publicado originalmente no El Hombre.

Se no fim do ano passado ela quase perdeu a voz ao dar tantas entrevistas por seu trabalho como a inocente Cosette em Les Miserables, 2013 começou com ela discutindo vários atos sexuais e como simulou sexo oral em um pirulito.

O que levou Amanda Seyfried a esse ponto?

Sua incrível performance em Lovelace. Encarregada de viver a estrela pornô Linda Lovelace, que se tornou lendária por seu trabalho em Garganta Profunda, a maior bilheteria pornô da história, Seyfried emergiu como uma das mais talentosas jovens estrelas de Hollywood. “Era um papel arriscado, de fato, mas a nudez não me assustou”, contou Seyfried ao El Hombre, que participou de cenas assim em Chloë. “Estava mais preocupada com a violência que ela sofreu, mas ela era uma mulher corajosa e nunca senti tanto afeto por um papel. Foi difícil deixá-la”.

Co-estrelando Peter Sarsgaard como Chuck Traynor, o abusivo marido e empresário de Lovelave, o filme aborda a revolução sexual dos anos 60 e 70 tanto quanto a forma como Lovelace foi brutalmente explorada. O elenco inclui James Franco (como Hugh Hefner), Adam Brody (Harry Reems, que co-estrelou Garganta Profunda), Chloë Sevigny e Sharon Stone.

A ex-modelo cresceu em Allentown, Pennsylvania e demonstrou ter talento artístico desde criança. Ela estudou ópera por cinco anos antes de se matricular para um curso intensivo de atuação em Nova York. Ao se formar em 2004, imediatamente conseguiu papeis em Meninas Malvadas e Alpha Dog antes de ficar famosa por Mamma Mia.

Ano passado, admitiu sofrer de TOC (transtorno-obsessivo-compulsivo). Disse ela: “Tenho que fazer muitas coisas ao mesmo tempo. É um TOC. Então se não estou fazendo filmes, o que faço quase todos os dias, tenho que tricotar, jogar Sudoku, ouvir alguma coisa… Gosto de ter controle de tudo. Por isso tomo Lexapro. É para o TOC. Não sinto que estou sofrendo por conta dele. Acho que o TOC é uma parte de mim que me protege. Também uso no meu trabalho, de uma forma positiva.”

Amanda, dar vida a uma estrela pornô icônica como Linda Lovelace é provavelmente o papel mais polêmico que uma atriz poderia aceitar.

Foi uma filmagem difícil, mas era o que eu estava procurando. Já atuei em vários romances, mas sempre procurei um papel sombrio e a história de Linda Lovelace é um algo bem obscuro. Não pudemos mostrar metade do que ela sofreu, apesar de nosso filme ser uma experiência um tanto chocante. Senti como se estivesse me desintoxicando por algumas semanas depois de ser levada ao seu mundo. Mas ainda assim, foi a experiência mais intensa e recompensadora que já tive no cinema.

Como foi fazer as várias cenas de sexo do filme?

Apesar de todo o sofrimento do meu personagem, eu me diverti bastante. Nosso elenco era incrível e Peter [Sarsgaard] tornou tudo muito mais fácil nessas cenas porque levamos tudo de uma forma sarcástica e riamos muito nos bastidores. Mas quando o filme terminou, me senti num lugar sombrio e tive sorte de começar a filmar Les Miserables só três semanas depois. Aquilo me ajudou a ter minha cabeça reajustada e tive sorte de seguir com aquele filme porque cantar é minha outra grande paixão.

Como você e Peter lidaram com as cenas de sexo?

Bom, elas não foram tão gráficas. Usei um pirulito para fingir que estava fazendo sexo oral nele e ri o tempo inteiro. Da forma que foi filmado, parece sensual, mas não me pareceu sensual ou invasivo enquanto estávamos lá. O que é ótimo no Peter é que ele é a pessoa mais tranquila para se trabalhar que existe. Você pode falar pra ele tirar as calças que ele fará sem problemas. Não tivemos dificuldades. Fazíamos parte de um time o tempo todo e somos atores, nada verdadeiro estava acontecendo. A violência foi algo muito mais complicado para ele e também para mim.

Você impôs algum limite à sua nudez no filme?

Bom, não há nudez frontal. Quero guardar algo para o meu futuro marido.

Amanda
Amanda

Houve algo que você descobriu da vida dela que a chocou?

Que ela foi forçada a fazer tudo. Ela foi forçada a fazer pornografia! Garganta Profunda, para ela, era só um jeito de escapar de seu marido. Toda aquela fama, sorrindo em tapetes vermelhos e posando para a Playboy, era falsa – ela era muito infeliz e problemática e foi abusada fisicamente, sexualmente e mentalmente. E há tanto sobre ela que ninguém sabe. A não ser que leia sua autobiografia, seria impossível de saber. Outra coisa que pode surpreender alguns é o fato de que ela não era promíscua. Ela teve um filho e foi forçada a colocá-lo para adoção por seus pais, que eram muito católicos. Eles eram muito rígidos e até certo ponto intensos. Não eram os piores pais do mundo, de forma alguma, mas ela tinha que sair de lá. Quer dizer, imagine ser forçado a dar o seu filho. O que você faria? O pornô foi algo que fez com que ela liberasse sua sexualidade e escapasse do seu marido, que era muito brutal e a explorava.

Você já se sentiu explorada como atriz?

No começo da minha carreira eu era muito inocente e fácil de ser manipulada ou influenciada. Meus instintos naturais eram de tentar fazer todos gostarem de mim, e isso é uma enrascada psicológica de que ainda tento me libertar. Sou uma pessoa muito aberta e naturalmente revelo coisas sobre mim para pessoas e tento não esconder o que estou sentindo, algo que pode te meter em problemas ou te deixar em uma posição bastante vulnerável. Felizmente, tive algumas boas pessoas por perto de mim e pude ter uma carreira muito boa até agora. Mas ainda estou aprendendo a ser mais assertiva e não me deixar ser colocada em uma situação que estou apenas para agradar as pessoas.

Você se preocupa em como algumas pessoas podem reagir à nudez e o sexo nesse filme?

Não entendo porque as pessoas têm tantos tabus quando se trata de sexo e nudez. Seria uma pena se tudo o que falássemos em relação ao filme fosse sobre peitos e tal. O filme não apresenta a nudez de uma forma sensacionalista ou gratuita. Garganta Profunda foi uma pequena parte de sua vida, apesar de ter sido o que a tornou famosa. Para mim a história é sobre o tipo de vida problemática que ela aguentou e sofreu para superar. Ela era uma mulher fascinante.

Você fez algumas escolhas ousadas. Participar de um filme como Chloë (em que Seyfried tem cenas quentes de lesbianismo com Julianne Moore) ajudou a se preparar para Lovelace?

Não acho que poderia ter feito Lovelace da mesma forma destemida se não tivesse estado em Chloë. É o tipo de papel que te faz cavar mais fundo em sua psique. Tento encontrar projetos que sejam diferentes em relação ao que fiz no passado. É importante chacoalhar as coisas. Interpretar uma mulher aberta sexualmente muda sua percepção porque é muito fácil se prender aos papeis da boa mocinha. Acho que tenho mais cores que isso. No passado, tinha muita dificuldade em expor meu lado sexual. Mas depois de Chloë, me senti muito mais confiante e mais sexy.

Você disse que sofre de ansiedade antes de entrar em cena. Mas parece ser bastante corajosa. Você também é uma das poucas atrizes de Hollywood dispostas a fazer cenas de nudez.

Não tenho problema com cenas de sexo ou nudez. Elas são excitantes de certa forma, já que você está em contato físico com outro corpo. A única diferença é que você tem que se segurar, já que está fingindo fazer sexo com uma pessoa diferente da que você costuma fazer…