“Vai dar merda”, alertou procurador da Lava Jato em diálogos sobre Moro

Atualizado em 15 de março de 2021 às 20:28
O procurador Orlando Martello. (Foto: El Comercio).

Diálogos protocolados nesta segunda-feira (15) pela defesa do ex-presidente Lula, periciados pela operação Spoofing, da Polícia Federal, mostram que os procuradores da Lava Jato sabiam que a relação com o ex-juiz Sergio Moro poderia trazer problemas no futuro.

Sob o codinome de “Rússia”, “Russo”, “Russa” e “Old Russian”, ele é citado em várias conversas entre membros da força-tarefa.

Numa troca de mensagens sobre o suposto imóvel do Instituto Lula, em 17 de abril de 2017, os membros da força-tarefa discutem a decisão de Moro de exigir um depoimento do ex-presidente na presença de 87 testemunhas, o que foi encarado como um “troco” do ex-juiz.

O procurador Orlando Martello Júnior, então, faz um alerta a seus colegas sobre a ilegalidade da conduta de Moro: “Vai dar merda!”.

Mesmo assim, Lula e o ex-juiz ficaram frente a frente no dia 11 de maio daquele ano, num depoimento marcado por diálogos tensos, algumas vezes com ataques explícitos.

“Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, estou aqui em respeito à lei, à Constituição, mas com muitas ressalvas aos procuradores da Lava Jato”, disse o ex-presidente na ocasião.

A defesa do petista afirma que os procuradores “nada fizeram” para conter Sergio Moro porque “tinham um pacto” com ele.

A procuradora Laura Tessler chega a reconhecer que a decisão sobre o depoimento “não tem previsão legal nenhuma”, mas numa tentativa de amenizar a situação, dispara: “Não dá para negar que Moro é criativo”.

Segundo a petição, “o ‘Russo’, conscientemente ou não, remete a Lava Jato e seu chefe às condutas autoritárias dos célebres Processos de Moscou, ocorridos no final da década de 1930”.

Os advogados ressaltam que os Processos de Moscou eram conduzidos pelo procurador-geral Andrey Vichinsky, que é conhecido pela frase “Entregue-me um homem e lhe encontrarei um crime”.