Vaias no funeral: onde foram parar os bons modos?

A família no velório

Onde foram parar os bons modos?

Vaias num funeral?

É, pelo menos, o que destacam os sites da grande mídia, com evidente regozijo.

Dilma e Lula, você lê, foram vaiados nas cerimônias fúnebres de Eduardo Campos, no Recife.

Vozes alternativas contestam. O jornalista Lino Bochinni, da Carta Capital, está no Recife, e afirma não ter ouvido as vaias.

Outros falam em vaias e aplausos. (Vaias sublinhadas e aplausos diminuídos nos sites.)

Mas, seja como for, o que impressiona é a banalidade da vaia.

Num velório, o maior insulto vai não para o apupado, mas para o morto e as pessoas que o amam.

Velório é um momento de trégua em disputas políticas. Por algumas horas, as desavenças ficam de lado em sinal de respeito e pudor.

Há, nas noticiadas vaias no Recife, uma barreira a mais quebrada na questão da civilidade.

A próxima etapa é vaiar o morto.

Não há um único artigo que condene as vaias e defenda um comportamento civilizado numa hora tão dramática.

Há, na verdade, uma maldisfarçada exploração da barbárie. A mídia parece não apenas gostar das vaias a Dilmas mas incentivá-las ao colocá-las nas manchetes ou mesmo dar-lhes uma dimensão muito acima da realidade.

A classe política contribui também, muitas vezes.

Jarbas Vasconcellos, político do PMDB pernambucano que sempre se opôs a Eduardo Campos, está sendo citado em todos os portais.

Você pode imaginar o motivo.

Vasconcellos apoiou as vaias a Dilma. Acusou-a de falsidade ao comparecer ao velório.

Mas a internet pode ser cruel com cínicos e oportunistas.

Viralizou na internet um vídeo – num outro funeral, alguns anos atrás – em que Vasconcellos critica brutalmente Campos.

É uma cena que impressiona. Num ambiente de tristeza silenciosa que é a marca dos velórios, Vasconcellos sussurra insultos contra Campos e seu governo por mais de três minutos.

A marca da administração Campos, segundo Vasconcellos, era o “mau caratismo”.

Mau caráter? Quem? Falsidade? De quem?

É urgente devolver a civilidade e os bons modos à política.

Respeitar os mortos é um primeiro passo.

Velório não é lugar para vaias. Repito: elas ofendem o morto muito mais que o destinatário delas.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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