
A decisão de Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), de retirar três processos que movia contra Ciro Gomes (PSDB) antecedeu diretamente o veto público de Michelle Bolsonaro à aliança entre o PL e o ex-presidenciável no Ceará. Com informações do Globo.
O movimento, revelado após a suspensão do acordo eleitoral, expôs não apenas a tentativa de reaproximação entre Valdemar e Ciro, mas também a disputa interna na família Bolsonaro pelo comando das articulações políticas no estado.
De olho na composição com Ciro Gomes, Valdemar retirou em agosto três ações judiciais que movia desde a campanha de 2022, cada uma com pedido de indenização de R$ 100 mil. Na época, Ciro o associou a desvios no DNIT e citou sua condenação no Mensalão, o que motivou os processos.
O presidente do PL confirmou ter desistido das ações como gesto político, buscando criar um ambiente de “união de forças e pragmatismo para derrotar o PT no estado”.
Em setembro, Valdemar chegou a afirmar que o episódio estava superado e elogiou Ciro: “É o único jeito de derrubar o PT no Ceará. Ele já meteu o pau em mim e no Bolsonaro, mas não tem jeito”. A frase virou piadas nas redes sociais.
O “veto de Michelle”
A iniciativa de Valdemar foi frustrada quando Michelle Bolsonaro atacou publicamente a composição do PL com Ciro durante ato no Ceará. A ex-primeira-dama criticou a aproximação entre André Fernandes (PL-CE) e o tucano.
“É sobre essa aliança que vocês precipitaram a fazer. Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita (Jair Bolsonaro), isso não dá. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinha. Então, não tem como”, disse Michelle.
Olha Michelle Bolsonaro dando bronca no André Fernandes, aquele deputado trombadinha que meteu a mão no meu microfone uma vez. Quem mandou se aliar ao Ciro Gomes, agora será cobrado. pic.twitter.com/3YSzYFVh38
— GugaNoblat (@GugaNoblat) November 30, 2025
A fala desencadeou reação imediata dos filhos de Bolsonaro — Flávio, Eduardo e Carlos — que acusaram Michelle de desrespeitar orientação direta do ex-presidente, atualmente preso em Brasília. O episódio aprofundou a disputa por protagonismo político no grupo bolsonarista.
A suspensão oficial da aliança foi confirmada por Jair Bolsonaro durante encontro com Flávio na Superintendência da PF.
Atrito antigo entre Ciro e Valdemar
A crise reacendeu um embate de 2022, quando, em debate da Revista Veja, Ciro atacou Valdemar ao criticar Bolsonaro: “Valdemar Costa Neto, o Lula deu o DNIT para roubar, foi preso e condenado no Mensalão. Agora o Bolsonaro é filiado ao DNIT”.
A ofensiva motivou as ações judiciais que Valdemar só retirou neste ano em busca do acordo político — acordo que não avançou por causa da intervenção de Michelle e da disputa interna entre as alas do PL e da família Bolsonaro.