Vamos morrer sem lutar pela vida ou reagir contra quem quer nos matar? Por Tiago Barbosa

Atualizado em 16 de dezembro de 2020 às 17:37
Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Por Tiago Barbosa

A escalada de absurdos sanitários tutelada por omissão coletiva de instituições e personagens públicos medíocres desvirtua a urgência do ódio legítimo contra a normalização de um genocídio.

A fúria despertada pelos regozijos sádicos e sociopatas do governo Bolsonaro em relação à multiplicação das mortes por Covid-19 gera uma avalanche de indignação justa, mas dispersa e sem força prática para cessar o morticínio.

As redes sociais são inundadas por críticas, palavrões, xingamentos e a viralização de vídeos ou frases desumanas à espera de súbita providência do destino enquanto, paradoxalmente, amortizam a barbárie.

O ódio carece de método e planejamento, de metas e direção para atender à necessidade humanitária de salvar vidas.

Requer a consciência da necessidade de investir contra quem ou o que pode interromper a sanha assassina da quadrilha do presidente – e não de tentar, em vão, sensibilizar o genocida para a violência dos seus atos.

É imperativo responsabilizar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a tradução da covardia parlamentar e escudo de fascista, pela inação diante dos pedidos de impeachment de Bolsonaro.

Interpelar, confrontar, constranger, travar ações e iniciativas, declarações e posturas sob a justificativa de proteger a população brasileira.

A cobrança deve se estender a parlamentares da oposição corresponsáveis pela leniência do presidente da Câmara, cúmplices quando se furtam a emparedar o engavetador de impeachment.

O ódio contra essa calamidade precisa estimular a cobrança de ações enérgicas pelo procurador-geral contra o assassinato dos brasileiros. Quem pode puni-lo? A quem presta conta quando omisso?

Não escapam do cerco de pressões os veículos de mídia tradicionais reféns da covardia jornalística e alheios à demanda histórica por uma comunicação de confronto frente à enxurrada de fake news e informações distorcidas.

É urgente exigir precisão e agressividade na linguagem assim como espaços de comunicação ampliados para combater a rede de esgoto negacionista aberta pelo governo Bolsonaro e seguidores acéfalos.

Por que não exigir da Globo a criação de um programa de TV em horário nobre no lugar da reprise das novelas para martelar o benefício da vacina e das medidas sanitárias?

Com suporte de celebridades, cientistas e uma linguagem forte para desmobilizar as mentiras disseminadas pelas redes sociais e atrair quem fica à mercê de informações inconsistentes.

Por que não cobrar dos cientistas mais ativismo pró-vacina para forçar entidades de classe a coibir a prática nociva da medicina baseada em ideologias debilóides norteadas pelo uso de remédios ineficazes?

E por que não encorajá-los a exigir mais espaço dos veículos de mídia para guerrear contra os movimentos antivacina, a ignorância organizada cujos efeitos começam a ser captados pelas pesquisas de opinião pública?

A sociedade racional precisa se indignar com a tibieza dos jornalistas diante dos conchavos político-econômico-empresariais celebrados pelos patrões com um governo genocida em nome de uma agenda neoliberal cujo cerne é o desprezo à vida.

É preciso canalizar a indignação para gerar efeito cascata e tornar insuportável a essa gente conviver com uma desfaçatez corresponsável pela perpetuação de um grupo de extermínio no poder.

Existem inúmeros atores envolvidos no equilíbrio dessa conjuntura marcada pela indiferença à fatalidade da doença, de empresas omissas a igrejas coniventes – e todos devem ser instados a frear a perda de vidas.

O poder destrutivo da pandemia redefine os parâmetros de responsabilidade e ação diante da configuração social, soterra formas conhecidas de se portar diante do curso da convivência e obriga todos a combater, incessantemente, a violência de estado.

Os pesos e contrapesos usualmente problemáticos são ainda menos eficazes diante de uma política deliberada para entorpecer a cidadania e matar a população.

É preciso odiar racionalmente a tentativa de naturalizar o envenenamento das pessoas com remédios inúteis, o assassinato dos mais frágeis e o bloqueio do acesso à imunização coletiva.

É necessário instrumentalizar esse ódio para sobrepor o direito de existir aos jogos de poder baseados em ideologias negacionistas e homicidas – praticados pelo governo, pelas instituições ou pelo homem comum.

Só uma questão deve balizar as ações neste momento: vamos todos morrer sem lutar pela própria vida ou vamos reagir contra quem deseja nos matar?