Vamos ver qual é o limite de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 4 de maio de 2020 às 15:35
Ao lado da filha Laura, Bolsonaro, sem usar máscara de proteção, cumprimenta multidão presente Foto: EVARISTO SA / AFP

Publicado originalmente no blog do autor

Esta é a ameaça que será testada nos próximos dias. “Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão”.

Qual é o limite para Bolsonaro? Não tem mais conversa com o Supremo? Exigir o quê? Qual será o preço que ele se dispõe a pagar? Bolsonaro espera que tipo de problema esta semana?

É hora de dar sentido às advertências, agora contando com um dado novo que parece favorecer suas insinuações golpistas.

Esse é o dado: os quatro ministros generais e os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica podem ter ficado sabendo no sábado, em reunião com Bolsonaro, o que ele iria dizer no domingo no ato pró-ditadura.

Bolsonaro estava bem amparado quando afirmou, na rampa do Planalto, que as Forças Armadas estão ao seu lado e ao lado do povo. Reuniu-se com os militares no sábado e referiu-se a eles no domingo, de forma categórica, diante de um ato claramente ilegal.

Estavam na reunião Braga Netto, da Casa Civil; Augusto Heleno, Gabinete de Segurança Institucional; Luiz Eduardo Ramos, Secretaria de Governo; e Fernando Azevedo, da Defesa. E mais os comandantes das três armas.

Bolsonaro vai encarar o Supremo com o apoio firme dos militares? Ou pelo menos com o silêncio deles? Quem vai tentar calibrar as loucuras de Bolsonaro? O que é ameaça e o que é blefe?

O objetivo da reunião, disseram todos em nota enviada à Folha, foi o suporte das Forças Armadas às ações contra a pandemia.

O interessante é que os maiores desconfortos do momento para Bolsonaro são causados por personagens surpreendentes.

O ministro que desafiou a autoridade de Bolsonaro e vetou a nomeação do delegado amigo dos garotos foi indicado por Michel Temer. Sempre teve ligações com a direita paulista. E ninguém é mais destemido no Supremo hoje do que Alexandre de Moraes.

No sábado, Moraes fez, por encomenda do Jornal Nacional, uma fala dura contra os desvarios do líder da ameaça de golpe.

Pois Bolsonaro mandou assessores espalharem ontem à noite que pode renomear Alexandre Ramagem para a Polícia Federal e criar outra confusão no Supremo, onde sabe que muitos ministros discordam de Moraes. Como faria isso?

O outro personagem surpreendente é o Estadão, o jornal mais reacionário do Brasil e declarado articulador do golpe contra Dilma.

O Estadão é autor de uma investida atrevida contra Bolsonaro, o pedido feito à Justiça para que o sujeito divulgue finalmente os suspeitos laudos dos testes de coronavírus.

Um jornal que sempre arrastou as asas para a extrema direita é hoje tão inimigo dos Bolsonaros quanto a Folha e a Globo. Não é por acaso que os dois jornalistas chutados por fascistas ontem em Brasília são do Estadão.

O roteiro do laudo pode ter desfecho no Supremo. A Justiça decidiu que Bolsonaro não precisava apresentar os laudos no sábado, que era o novo prazo de 48 horas.

Há mais um prazo, agora de cinco dias, que daria tempo à Justiça de segunda instância para uma decisão final sobre o caso.

Se Bolsonaro perder ou se ganhar, o caso pode ir parar no Supremo, por recurso de uma das partes.

E aí teremos novo confronto, que vai se juntar às investigações das fake news, dos patrocinadores dos atos pró-golpe, do caso Sergio Moro e do imbróglio do delegado da PF.

O Supremo está envolvido em pelo menos quatro casos recentes que podem fragilizar Bolsonaro e os filhos.

O embate agora é com o STF, não tem briga nenhuma com o Congresso. O Congresso é o gatinho manso olhando a guerra de Bolsonaro com o Judiciário.

Ao lado da filha Laura, Bolsonaro, sem usar máscara de proteção, cumprimenta multidão presente Foto: EVARISTO SA / AFP