Vanusa é o exemplo mais completo do que pode significar nos dias de hoje a palavra artista. Por Paulo Coelho

Atualizado em 8 de novembro de 2020 às 12:12

Segunda-feira, três horas da manhã. Os músicos acabaram de sair e no estúdio vazio ficamos apenas eu, o técnico e Vanusa.

As garrafas de café estão vazias, os cinzeiros cheios e as várias noites sem dormir deixaram algumas marcas em nossos rostos, mas apesar de tudo isso nós abrimos uma garrafa de champagne e brindamos a dois carretéis de fita que estão em cima de uma das máquinas, na sala da técnica.

Ali estão gravadas 11 músicas que fazem parte deste LP. E, na caixa azul que envolve os carretéis, está escrito um nome mágico: Vanusa.

Vanusa é o exemplo mais completo do que pode significar nos dias de hoje a palavra artista. Uma perfeita profissional e uma das pessoas mais sensíveis que conheci.

Todos nós que participamos do trabalho, vamos nos lembrar sempre de como ela riu, ela chorou enquanto cantava as músicas deste disco.

Sua voz conseguiu atravessar a mera sensibilidade estética ou harmônica e foi atingir aquelas regiões escondidas que existem dentro de cada um de nós e que só a verdadeira arte consegue alcançar.

Independente disso, ela era sempre a primeira a chegar no estúdio acompanhando de perto todos os detalhes técnicos, participava ativamente de cada arranjo e de cada ritmo.

Durante quase três meses de preparação e gravação deste LP Vanusa esteve presente.

E o resultado é este disco que você agora tem nas mãos.

Que não mostra apenas uma das maiores vozes da nossa geração, mas como também uma das mais apuradas sensibilidades que já tive oportunidade de conhecer.

Ela é um exemplo perfeito de quem conseguiu colocar sua vida no trabalho e sem trabalho na vida de todos nós.

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Este texto foi publicado no disco de Vanusa que Paulo Coelho produziu em 1981, quando ainda não era o escritor famoso. O disco traz a interpretação da versão brasileira de I Will Survive, escrita por Paulo Coelho. Veja o vídeo: