Vaticano rejeita as ingerências dos EUA e diz que “acordo com a China segue em frente”

Atualizado em 1 de outubro de 2020 às 9:49
PAPA FRANCISCO (FOTO: FILIPPO MONTEFORTE / AFP)

Originalmente publicado por INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS

Luz verde do Papa Francisco para novos contatos com a China, apesar das críticas de Washington. O cardeal de Hong Kong, Zen, tenta impedir a nomeação de Choi como bispo: “Ele é próximo do regime” Enquanto Mike Pompeo viaja para Roma, uma delegação da Santa Sé está preparando a troca epistolar decisiva – com base em documentos aprovados pelo Papa – a ser enviada a Pequim (esperando para ir para lá assim que a emergência da Covid terminar) para sancionar a continuação do acordo com a China. Com outro “presente de boas-vindas” ao Secretário de Estado dos Estados Unidos: a defesa do acordo com a República Popular, divulgado na mídia vaticana, que fala de “bons resultados” e especifica que a relação com o governo chinês se limita ao âmbito religioso. E tem um único grande objetivo: reunir a Igreja local. A mensagem entre as linhas da linguagem eclesiástica, na véspera da conversa de Pompeo com o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, é forte e clara: nenhuma interferência é admitida em um âmbito que é “genuinamente pastoral”.

A reportagem é de Domenico Agasso Jr, publicada por La Stampa, 30-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Portanto, nada de cancelamento do acordo invocado por Pompeo nos últimos dias. O Vaticano relança a vontade do acordo provisório com a China para a nomeação dos bispos e explica “as razões” pelas quais é importante que seja renovado. Segundo disse Parolin, o acordo, com vencimento em outubro, será confirmado. Também porque os dois primeiros anos “levaram a novas nomeações episcopais com o acordo de Roma e alguns bispos foram oficialmente reconhecidos pelo governo de Pequim”, destaca no editorial o diretor do Vatican News Andrea Tornielli.

Os resultados, embora mais lentos “por causa da pandemia que efetivamente bloqueou os contatos nos últimos meses, têm sido positivos, embora limitados, e sugerem que continuem por mais um período de tempo”. Tornielli ressalta que o pacto “diz respeito exclusivamente ao processo de nomeação dos bispos”. O objetivo, portanto, “nunca foi meramente diplomático e menos ainda político, mas sempre genuinamente pastoral: permitir que os fiéis católicos tenham bispos em plena comunhão com o Papa e ao mesmo tempo reconhecidos pelas autoridades da República Popular da China“. Por outro lado, a matéria não diz respeito “diretamente às relações diplomáticas entre a Santa Sé e a China, o status jurídico da Igreja Católica chinesa, as relações entre o clero e as autoridades do país”. Portanto, a “autoridade moral” não estaria em risco, como Pompeo tuitou pedindo uma inversão em nome do presidente Donal Trump. E assim, eis que uma “equipe” de emissários eclesiásticos está trabalhando nos detalhes do dossiê. O programa geral da negociação, antecipa uma fonte interna do Vaticano, é: “Debate com representantes chineses, proposta de experimentação por mais dois anos e posterior verificação dos elementos a serem modificados, anulados ou acrescentados”.

E a nomeação do bispo de Hong Kong, que não tem pastor titular desde janeiro de 2019, se enquadra nessa delicada negociação diplomática. A escolha será relevante no contexto das relações sino-vaticanas. Portanto, não faltam tensões no cenário marcado pelos confrontos pelo controle total do Território. As surpresas não estão descartadas com Bergoglio, mas o favorito seria o padre Peter Choi, “um monsenhor que pode ajudar a continuar o diálogo”, garante um prelado.

“Excessivamente do agrado de Pequim“, reclamam os adversários – dentro e fora da Igreja – da abertura às relações com o governo chinês, que apoiam outro potencial candidato, Joseph Ha Chi-shing. O líder dos opositores é o bispo emérito de Hong Kong, o cardeal Joseph Zen, de 88 anos. O cardeal esteve em Roma há poucos dias para pedir um encontro com o Pontífice que, contudo – relata o próprio Zen – não o recebeu. O objetivo da missão é “evitar a nomeação de um bispo pró-regime chinês em Hong Kong, que seria um desastre”, declarou em entrevista ao site La Nuova Bussola Quotidiana. A decisão é esperada nos próximos dias, mas provavelmente em semanas, inclusive porque a ratificação deveria aguardar o retorno das Filipinas do cardeal Luis Antonio Tagle, prefeito da Propaganda Fide, o dicastério que trata das terras de missão.