Véio da Havan tem que inaugurar uma loja, com estátua, em Cabul. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de agosto de 2021 às 11:35
Bolsonaro passeia de moto com Luciano Hang

O jornalista Moisés Mendes traça paralelos entre o chamado véio da Havan e a tragédia em Cabul, no Afeganistão. De seu blog.

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Véio da Havan em Cabul

Se o véio da Havan decidir ter quatro lojas na zona sul de Porto Alegre, numa corrida para ocupar territórios, será permitido que todas as lojas tenham na frente uma réplica grotesca de fibra de vidro da Estátua da Liberdade?

É permitido que o véio da Havan erga estátuas por toda parte, de forma indiscriminada, como vem fazendo, sem que aconteça nada?

O véio tem o direito de poluir ambientes próximos a espaços públicos, que são de todos? É assim mesmo que funciona? O véio manda e desmanda e compra todo mundo?

Claro que é fajuto o argumento de que o véio ergue suas estátuas em pátios de suas áreas privadas, nos estacionamentos das lojas, e por isso pode tudo.

Não pode ser razoável que as cidades sejam tomadas pelo padrão estético e a imposição comercial de um ogro. E que todos sejam obrigados a admirar as estátuas verdes. Não pode. Não é assim que a liberdade funciona.

Se outros comerciantes decidirem erguer estátuas de Mickeys, Batmans e até de Bolsonaro, como pretendem em Passo Fundo, uma cidade pode ser tomada por estátuas de todo tipo e ninguém fará nada?

É decisivo para que o véio seja contido o debate que acontece em São Luís, onde mais uma estátua (esta aí da foto) foi erguida neste sábado. Os maranhenses não querem saber da estátua e já recorreram à Justiça.

A cópia ficará ao lado da Avenida Daniel de La Touche, a apenas 12 quilômetros do centro histórico de São Luís. O centro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e reconhecido como Patrimônio Cultural do Mundo pela Unesco em 1997.

Pode um espaço histórico já degradado receber a estátua do véio, porque assim o véio aumenta seus negócios? Não pode.

O véio não pode se adonar de todos os espaços, sob o argumento de que os pátios são dele.

Muitas cidades já se livraram dos outdoors, como fez São Paulo em 2006. E os outdoors estavam em espaços privados. São Paulo acabou com os outdoors em nome da Cidade Limpa.

Agora, precisamos nos livrar das estátuas do véio. O projeto do véio é disseminar estátuas por todo lado, como marketing das suas lojas de bugigangas, que nem importam nada dos Estados Unidos, mas da China.

É um plano diabólico. Uma réplica será doada à cidade de Nova Iorque (sim, o Maranhão tem uma Nova Iorque), de 4.600 habitantes, mesmo que não exista loja nenhuma na localidade. Será um enfeite.

A atriz maranhense Claudiana Coutrim prevê o que vai acontecer. O véio da Havan pode instalar estátuas próximas de áreas históricas de Olinda, Ouro Preto ou Diamantina.

Não posso dizer que as estátuas devem ser derrubadas, até porque não tenho mais idade para ajudar. Mas posso dizer que, se derrubarem, não vou ajudar a levantar.

O véio da Havan tem que inaugurar uma loja de burcas fabricadas por grifes americanas, com uma estátua bem grande na frente, no centro de Cabul.

Véio da Havan tem que inaugurar uma loja, com estátua, em Cabul. Por Moisés Mendes. Foto: Reprodução/blog