Veja 8 palavras cotadas para entrar no vocabulário oficial da língua portuguesa

Atualizado em 14 de julho de 2025 às 11:53
Dicionário. Foto: Reprodução

“Terrir”, “disania” e “pejotização” ainda não fazem parte do português oficial, mas isso pode mudar em breve. Essas e outras cinco palavras estão sendo analisadas pela Academia Brasileira de Letras (ABL) para possível inclusão no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) — o documento que define a grafia correta das palavras na norma culta e tem força de lei no Brasil.

Ao lado de “cordonel”, “microssono”, “reclínio”, “retrofitagem” e “tokenização”, esses termos formam uma espécie de “lista de espera” no Observatório Lexical da ABL, que monitora o uso de novas palavras na sociedade. Caso sejam aprovados, passarão a fazer parte oficialmente da língua portuguesa.

“O Volp não introduz uma palavra no léxico nem é um censor que autoriza ou não o ingresso de um termo na língua. Quem cria é o falante. O que o VOLP faz é registrar”, explicou Ricardo Cavalieri, coordenador da Comissão de Lexicografia da ABL ao G1.

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Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Foto: Reprodução

Os critérios para a inclusão são rigorosos: a palavra precisa aparecer em textos escritos — como reportagens, livros e artigos acadêmicos — e estar presente em pelo menos três gêneros textuais diferentes, além de demonstrar uso estável e uniforme.

“Palavras que surgem em novelas ou em memes e depois desaparecem não devem ser registradas”, afirmou Marcelo Módolo, linguista da USP.

Também é exigida a adaptação ortográfica, no caso de estrangeirismos. Termos como “deletar” entram, mas outros como “bullying” e “spin-off” são mantidos em um vocabulário separado para palavras estrangeiras.

A palavra “Covid-19”, por exemplo, foi rapidamente incorporada ao Volp por causa do uso massivo durante a pandemia.

“Quando começaram a usar a sigla, jornalistas e cientistas tinham a necessidade de saber se seria o covid ou a covid. O Volp registra que é um substantivo feminino”, disse Cassiano Quilici, lexicólogo e professor da PUC-SP.

A análise de novos vocábulos não tem prazo fixo. Segundo Cavalieri, “a própria palavra faz seu tempo. Cada termo tem sua história até se firmar.”

Entre os termos atualmente em avaliação, estão:

  • disania – dificuldade extrema de sair da cama pela manhã
  • terrir – gênero de filme que mistura terror e humor
  • pejotização – contratação de trabalhadores como pessoa jurídica (PJ)
  • cordonel – lona têxtil usada em conserto de pneus
  • microssono – cochilo involuntário de poucos segundos
  • reclínio – ação de inclinar-se ou deitar-se
  • retrofitagem – modernização de prédios antigos sem alterar a estrutura original
  • tokenização – substituição de dados sensíveis por códigos criptografados

“Vejo com mais simpatia [a incorporação de] pejotização do que [de] terrir, porque já está nas sentenças judiciais, na doutrina do direito trabalhista e em livros”, disse Cavalieri.

Exemplos de palavras que já entraram no Volp

A língua portuguesa está em constante transformação. Nos últimos anos, diversos termos foram incorporados oficialmente. Entre eles:

  • Movimentos sociais: antirracista, empoderamento, etarismo, homoparental, letramento racial, sororidade, sudestino
  • Tecnologia: biossegurança, cibercrime, criptomoeda, microchipagem, webinário, logar, renderização, streaming
  • Pandemia: Covid-19, home office, lockdown, telemedicina
  • Outros termos populares: kombucha, poke, startup

A decisão final sobre as novas palavras, no entanto, não tem prazo fixo. Como resumiu Cavalieri: “A própria palavra faz seu tempo. Cada termo tem sua história até se firmar.”