Venezuela: Guaidó viajou com identidade falsa com o tio, preso acusado de portar explosivos. Por Fania Rodrigues

Atualizado em 15 de fevereiro de 2020 às 8:19
Guaidó e o tio Juan José Márquez

POR FANIA RODRIGUES, de Caracas

O piloto de aviação civil Juan José Márquez, tio do líder opositor venezuelano, Juan Guaidó Marquez, foi preso na última terça-feira quando chegava no mesmo vôo em que o sobrinho voltou à Venezuela depois de uma viagem de 20 dias pela Colômbia, Europa, Canadá e EUA.

Juan José Márquez, de 54 anos, estava vestido com um colete à prova de balas, um artefato militar e policial proibido em vôos comerciais.

A informação foi fornecida pelo presidente da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello, e confirmada pela esposa de Márquez, Romina Botaro, em uma declaração a imprensa.

“Depois de passar pelo serviço de migração foi detido pelo Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributaria (Seniat), porque estava vestido com uma ‘camisa protetora’ (colete à prova de balas). Ele ligou a para a equipe para informar que tinha que dar uma declaração sobre o que levava vestido”, disse Romina Botaro em entrevista coletiva.

A nota fiscal do colete foi apreendida e divulgada pelas autoridades venezuelana e está em nome do marqueteiro de Guaidó, Juan José Rendón (conhecido na Venezuela como JJ. Rendón), que mora nos Estados Unidos.

Ele também está sendo acusado de portar “substância de natureza explosiva”. Romina Botaro nega que Márquez viajava com explosivos.

No entanto, segundo informou Diosdado Cabello, o tio de Guaidó carregava consigo duas “lanternas táticas, que continham substância explosiva no compartimento da bateria”, assim como seis cápsulas recarregável de perfume onde também foi encontra a mesma substância.

A suspeita é de seja explosivo plástico tipo C-4, um dos mais potentes do mundo. O porte de substância explosiva e o uso de colete a prova de bala foi considerados uma violação às regras da aviação civil, de acordo com as autoridades venezuelanas.

Guaidó, seu tio e os assessores de sua equipe embarcaram na cidade Boston, nos Estados Unidos em vôo da companhia aérea TAP de Portugal.

Viajaram até Lisboa, para uma escala, antes de aterrissar no aeroporto internacional Simão Bolívar, de Caracas. No entanto, as autoridades venezuelanas afirmam que o nome de Juan Guaidó não constava na lista de passageiros enviados previamente pela companhia aérea.

O Ministério de Relações Exteriores da Venezuela afirmou ainda que o “deputado Juan Guaidó utilizou uma identidade falsa” para abordar o vôo da TAP e pediu ao governo que faça uma “investigação rigorosa a todos esses fatos”.

A empresa aérea TAP divulgou um comunicado dizendo que o sistema de segurança dos aeroportos não permite que entrem explosivos nos aviões.

“Não podemos viajar com explosivos em nossos aviões porque temos um sistema de segurança que os detecta”, informou a companhia aérea. Mas a TAP não nada disse sobre o colete à prova de bala.

O presidente da ANC, Diosdado Cabello, questionou o comunicado da TAP. “Embarcaram Juanito alimaña (a maneira como se refere a Juan Guaidó) desde Portugal sem registro de passageiro e esperam que nós vamos acreditar que é impossível que os permitissem trazer armamento proibido”, escreveu no twitter.

Apesar do rigoroso sistema de segurança, o C4 é um tipo de explosivo plástico de difícil de ser detectado pelos equipamentos de raio x dos aeroportos.

Além disso, é maleável como uma massa de modelar e por isso pode ser alojado facilmente dentro de qualquer objeto. Um estudo assinado por pesquisadores das Universidades de San Diego, de Michigan e da Johns Hopkins, de 2014, demonstrou que escâneres de 160 aeroportos dos EUA não conseguiram diferenciar carne e tecido humano do explosivo plástico C4.

Quem é o misterioso tio de Juan Guaidó

Juan José Márquez é um piloto venezuelano de 54 anos, pai de cinco filhos.

Tem residência na Venezuela e em Miami, onde é proprietário de um apartamento de 75 metros quadrados, no avaliado entre 300 e 500 mil dólares, de acordo com informações publicadas pela página de notícias venezuelana, La Tabla.

Segundo o fundador da La Tabla, o jornalista Victor Hugo Majano, especialista em jornalismo investigativo, “Márquez e sua esposa não possuem registros público de perfis profissionais em nenhum lugar, faz todo o possível para ocultar sua vida há vários anos”, diz o jornalista.

A esposa de Márquez, Romina Botaro, afirmou em entrevista coletiva que o seu marido “é piloto e que não tem nenhuma relação com a política”.

Porém, se recusou a responder a perguntas de um jornalista sobre quando Márquez havia se incorporado a equipe que viajou com Guaidó durante 20 dias por diversos países do mundo.

Um amigo de Guaidó de longa data, Ángel Briceño, que o conhece desde a universidade, disse em entrevista à BBC, essa semana, que Juan José Márquez foi a “figura paterna de Guaidó, depois da separação dos pais” ainda na sua juventude e que seu tio “tem sido seu mentor e seu guia, quem o impulsionou a realizar seus sonhos e objetivos”.

Segundo as autoridades venezuelanas, foram encontrados documentos do serviço secretos dos Estados Unidos juntos aos pertences de Juan José Márquez, informação que a família nega ser verdadeira.