Verba da Rouanet para Jockey de SP vai para construtora que só existe no Instagram

Atualizado em 19 de outubro de 2025 às 12:05
Placas do projeto de restauração abandonadas no Jockey Club. Foto : Juliana Sayuri/UOL

O Jockey Club de São Paulo, histórico clube de 150 anos às margens do rio Pinheiros, recebeu R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais nos últimos sete anos para restaurar sua sede. O recurso veio de programas do governo federal e da Prefeitura de São Paulo, incluindo R$ 22,4 milhões via Lei Rouanet e R$ 61,2 milhões do município.

Documentos obtidos com exclusividade pelo UOL mostram que a prestação de contas do clube inclui notas fiscais que levantam suspeitas de irregularidades. A Prefeitura já rejeitou parte dos registros e determinou auditoria sobre o uso de recursos municipais.

Entre os pagamentos questionados estão serviços pagos a uma construtora de Goiânia, que só possui presença no Instagram, e despesas pessoais como jantares em restaurantes, farmácias e hotéis em outras cidades. Parte dos valores teria sido destinada a empresas ligadas a familiares de Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB e conselheiro do Jockey, que teria indicado a produtora cultural Elysium para coordenar o restauro. Perillo nega qualquer envolvimento.

A Elysium tornou-se Organização Social de Cultura (OSC) em 2014 por decreto do então governador de Goiás e, desde então, assumiu diversos projetos do clube. A empresa também se tornou procuradora do Jockey em 2020 e alcançou quatro aprovações simultâneas pela Lei Rouanet em 2025.

Foto: Arte/UOL

Relatórios apontam pagamentos questionáveis a empresas ligadas à família Perillo, como a Sapé, que recebeu R$ 2.308 pelo aluguel de um gerador enviado para cidade sem relação com o Jockey. Outra construtora citada, a Biapó, confirma a execução de serviços, mas não detalha valores. Há ainda registros de serviços declarados que não teriam sido realizados.

O Ministério da Cultura, em parceria com a gestão municipal, investiga o caso. O Jockey apresentou notas repetidas entre os projetos da Rouanet e do TDC, o incentivo municipal, prática considerada irregular por especialistas. Entre os fornecedores declarados, alguns não foram localizados, e endereços apresentados correspondem a imóveis residenciais.

Apesar de investimentos milionários, o restauro do clube avança lentamente. A Tribuna 1, por exemplo, ainda apresenta vidros quebrados, bancos danificados, fiações expostas e buracos no teto, mesmo após R$ 7,7 milhões aplicados da Lei Rouanet. O clube afirma que os processos de prestação de contas estão regulares e critica tentativas de desvalorização do imóvel.

Marconi Perillo mantém que não participou da escolha de fornecedores e que seu vínculo com Débora Perillo, sócia da Elysium, é distante. O MinC afirmou que ainda não identificou inconsistências financeiras graves nos projetos concluídos, enquanto a Elysium defende que despesas administrativas seguem os limites legais da Rouanet e foram aplicadas de forma proporcional.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada, redatora e produtora de lives no DCM TV.