
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu nesta terça-feira 925) o vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, durante a Operação Muro de Favores, ação que investiga uma rede criminosa associada ao Terceiro Comando Puro (TCP).
Segundo os investigadores, o parlamentar é suspeito de apoiar a facção em troca de benefícios políticos e financeiros. Ele foi o terceiro mais votado na eleição municipal, com 6.720 votos, e integra seu quinto mandato consecutivo.
As apurações indicam que Aleixo enviou áudios e mensagens oferecendo material e suporte para a construção de barricadas em Vilar dos Teles, bloqueios usados pela facção para impedir a entrada de equipes policiais e serviços básicos.
A prática ocorre justamente no momento em que o governo fluminense iniciou a remoção de barreiras em cinco cidades, dentro do programa Barricada Zero. A investigação aponta ainda que o vereador negociou vagas na administração pública com criminosos, compondo o que os agentes chamam de “coração logístico e financeiro do esquema”.
Além do vereador, o irmão de um suposto traficante do TCP também foi preso. A polícia afirma que o núcleo auxiliador da facção atua em tráfico de drogas, homicídios, extorsão qualificada de comerciantes e lavagem de dinheiro.
O TCP, uma das três maiores facções do estado, domina áreas da Baixada Fluminense, como as comunidades Trio de Ouro, em São João de Meriti, além de Guacha e Santa Tereza, em Belford Roxo.
A Câmara Municipal de São João de Meriti informou que acompanha o caso e aguarda um comunicado oficial da Justiça. Em nota, afirmou que “qualquer fato relacionado a agentes públicos deve ser analisado com cautela e dentro do devido processo”.
Em conversas obtidas pelo ‘O GLOBO’ mostram que Aleixo negociou o envio de maquinário, supostamente da prefeitura, para “rasgar” ruas onde seriam instaladas barricadas. As mensagens eram trocadas com Marlon Henrique da Silva, o Pagodeiro, apontado como braço direito de Genaro, chefe do TCP na região.

Em um dos diálogos, o vereador oferece um “martelete” e, em seguida, promete vagas em um hospital para pessoas que Pagodeiro quisesse “ajudar” na comunidade. O delegado Vinicius Miranda, da DCOC-LD, detalhou o funcionamento da rede criminosa. Para ele, o grupo atuava em três frentes: tráfico, lavagem de dinheiro e articulação política.
“Desde o agente público oferecendo ao traficante cargos em hospital público, desde que ele o apoie… ‘eu cedo cargos para você, desde que você fale bem de mim para que as pessoas votem em mim’. O que assusta ainda mais é a possibilidade de que bens públicos […] sejam utilizados para ferir o povo”, disse.
O delegado afirmou que, até o momento, não há elementos que indiquem que Aleixo repassava informações sobre operações. Miranda citou um trecho específico das conversas. “Há uma conversa clara em que o cliente pede uma retroescavadeira para rasgar a rua.
O agente público afirma que não pode ceder a escavadeira, mas que pode ceder martelete”, afirmou. Em outra mensagem, segundo o delegado, o vereador sugere a posição exata em que a barricada deveria ser instalada: “O agente público solicita que a barricada seja um pouquinho mais para trás”.
A investigação também reuniu áudios atribuídos a Pagodeiro, que relata ter matado dois rivais e uma mulher inocente em novembro de 2023. “Eles fazem qualquer coisa para obter lucro: corrupção, tráfico de drogas, lavagem de dinheiro”, disse o delegado, ao explicar como o TCP expandia as barricadas e pressionava comerciantes da região.
A Operação Muro de Favores integra a estratégia Barricada Zero e foi deflagrada para desmontar um esquema de tráfico, extorsão e corrupção política na Baixada Fluminense. O núcleo seria comandado por Pagodeiro, que, segundo a polícia, confessou três homicídios. A facção utiliza armas de uso restrito e mantém forte presença nas comunidades.