Veto a comercial do BB não é só preconceito, é dano ao banco público. Por Fernando Brito

Atualizado em 26 de abril de 2019 às 8:28
Cena da propaganda censurada

Publicado originalmente no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Por um acaso, sei dos antecedentes da campanha do Banco do Brasil que Jair Bolsonaro determinou que fosse retirada do ar.

Ela nasceu da necessidade de que o banco se posicionasse diante do crescente público jovem de serviços bancários, mercado onde o BB encontra, além da competição dos outros bancos comerciais “tradicionais”, os bancos virtuais e as “fintechs”.

O assunto é uma das preocupações dos grandes bancos há anos, atentos à renovação de sua carteira de clientes.

É uma área onde o BB tem dificuldades de competição.

Ao contrário do público formado por nós, os “coroas”, tradição, história, segurança, presença física disseminada em agências e outros valores próprios do “banco físico” importam pouco.

Ir à agência, falar presencialmente com o gerente, o “acolhimento” do cheque com a marca, coisas importantes para as gerações mais velhas, para este segmento são algo “sem noção”.

Tudo, para eles, é feito no celular. E “modernidade” é a identidade básica a encontrar no serviço.

No último “Top of the Minds” da Folha, em matéria de aplicativos de bancos, o BB ficou atrás de Itaú e Bradesco, ao contrário do que acontece na categoria de serviços financeiros, onde é o líder.

O Banco do Brasil, estatal, é um banco comercial, que disputa mercado, e a intervenção de Jair Bolsonaro lhe é danosa comercialmente.

O prejuízo vai além do filme e dos outros materiais “jogados fora”. São milhares de contas que o banco perde por estar ausente da disputa comercial e a perda de identidade que ele tem com o público “entrante” no sistema bancário.

Alguém tem de explicar ao senhor Bolsonaro que publicidade não é “marreta” com a qual apenas se “dá” dinheiro a veículos de comunicação. Publicidade “vende” e quem não “vende” tem prejuízo.

É o que Bolsonaro deu ao Banco do Brasil, suspendendo a campanha, que não tem nada que mesmo um obtuso poderia chamar de imoral. E, de quebra, causa um prejuízo maior porque ajuda a fixar a imagem do BB como um banco antidiversidade, onde a cor da pele, do cabelo,  e outras das mil identidades do público jovem não se sentem acolhidas.

Isso não é ideológico, senhor capitão, é mercadológico.

O senhor, além de preconceituoso, é uma besta.

A menos que sua intenção seja esta mesmo, a de fazer o BB perder mercado.