Quando você não tem senso crítico, a coisa mais fácil a fazer é virar crente.
Nada é tão fácil quanto poder transferir a responsabilidade sobre suas merdas pra outro ser, melhor ainda se for um ser que não está aqui pra se defender, porque nem mesmo existe.
Você talvez me pergunte se, a julgar por esse texto, eu não acredito em Deus. A resposta é sim: acredito e vejo-o em todas as manifestações da natureza, idioma através do qual é possível chegar a Ele.
Eu não acredito é no diabo, e acho de uma hipocrisia obscena colocar as próprias cagadas na conta do pobre do tinhoso.
O pastor André Valadão, famoso apenas pelo conservadorismo, confessou-se viciado em pornografia e, pra variar, colocou a culpa nos “demônios”.
Um evangélico – ou o conservador, que, na maioria das vezes, dá no mesmo – quase sempre tem coisas a esconder: amantes, filhos bastardos, vícios em drogas e jogos de azar, alcoolismo não tratado, dinheiro escondido, sonegação de impostos – a lista, meus amigos, é gigantesca, tanto quanto a cara de pau de André Valadão.
Aliás, se tem um assunto que os evangélicos adoram é o diabo. Quanto mais conservadora a igreja, mais se fala nele: muito mais do que em Deus, o que é particularmente curioso.
Expulsam demônios, inventam línguas estranhas,operam milagres que são na verdade falcatruas que mantém viva a exploração da fé alheia… são, portanto, verdadeiros entusiastas do tinhoso na face da terra.
A verdade é que o pastor André Valadão – como a maioria dos demais pastores, sobretudo os mais famosos – não é decente o suficiente pra assumir o próprio B.O.
Creio que é precisamente isto que os conservadores mais detestam nos progressistas: nós não culpamos ninguém pelas nossas merdas. Assumimo-nos humanos e imperfeitos, corajosamente.
E eles? Nos criticam enquanto fazem muito pior por debaixo dos panos.
Então, não, pastor Valadão, você não é viciado em pornografia por culpa do diabo: é, como o mais comum dos viciados, um produto sadio de um machismo doente, que gosta de pornografia por perceber que esses tipos de filme são aqueles que objetificam as mulheres, tratando-as como prostitutas.
Para além da cara de pau de negar o óbvio – porque há sempre pessoas dispostas a acreditarem no absurdo a despeito do óbvio -, Valadão faz pregações homofóbicas sem o menor constrangimento.
Em pleno século XXI, bicho.
Não qualquer tipo de homofobia, mas a mais letal de todas: em um culto para brasileiros em Orlando (pra onde foi muito provavelmente por conta dos dízimos que recebe sem precisar pagar impostos), encorajou os fiéis a MATAREM pessoas LGBTQIA+.
A igreja comandada por ele promove o que se chamou, há alguns anos, de “cura gay”. Aparentemente além de ser um escroto, André Valadão parou no tempo: falar em cura gay em pleno 2023 chega a ser cafona, além, é claro, de desumanamente violento.
O pastor, que é bolsonarista – e eu sei que isso não te surpreende – prega a morte dos LGBTQIA+ sabendo que a bíblia, que deveria ser o livro sagrado deles, diz que Jesus andou com prostitutas e ladrões.
“Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz: já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso, agora tá com vocês. (…) Deus deixou o trabalho sujo pra nós”, diz, diante da pregação vergonhosa e violenta.
Além de encorajar o homicídio das pessoas simplesmente por assumirem sua sexualidade, ele insinua que isso é um mandamento divino, não sabendo que Deus e homicídio não podem estar numa mesma frase.
Gente como André Valadão esconde, além do vício em pornografia, uma vida baseada em mentiras e monetização da fé. Pastores evangélicos – que me perdoem os que não vestem a carapuça – pregam o que há de mais absurdo dentro das igrejas, e é por isso mesmo que a bancada da bíblia existe e só se fortalece com o passar do tempo.
Nossa desgraça não é apenas o colapso do capitalismo tardio, mas também um fundamentalismo religioso assustador, que surge exatamente das distorções dos exploradores da fé a respeito de Deus.
Deus é massa, qualquer que seja o significado que você associe a Ele.
O que mata é o fandom.