Viciados em bets deixam de comer pizza e pagar contas para apostar

Atualizado em 13 de julho de 2024 às 16:41
Apostador deixa de comprar coisas para gastar com bets. Foto: Divulgação

“Às vezes penso em comprar uma pizza, mas está passando Argentina e Canadá na televisão, por exemplo. Aí prefiro apostar naquele jogo, para ver se ganho e, com esse dinheiro, comprar a pizza. Mas se não ganho, acabo ficando no arroz e feijão mesmo”, afirma o apostador Osmar Neto à reportagem da Folha de S. Paulo.

O depoimento de Osmar, de 20 anos, reflete um novo padrão de consumo em ascensão no Brasil, onde as apostas esportivas online, conhecidas como bets, estão atraindo consumidores e reorientando seus gastos. Esta tendência está impactando setores como vestuário, supermercados e viagens, conforme revelado por uma pesquisa da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo).

De acordo com dados da ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias), o mercado de apostas esportivas movimenta aproximadamente R$ 110 bilhões anualmente no Brasil, com as casas de apostas lucrando cerca de R$ 14 bilhões.

Este crescimento tem sido acompanhado por uma mudança no comportamento de consumo: relatórios indicam que a participação do varejo nos gastos das famílias caiu de 63% em 2021 para 57% em 2023, ao passo que o impacto das bets na renda familiar subiu de 0,8% em 2018 para entre 1,9% e 2,7% em 2023.

Ruben Couto, analista de varejo do Santander, observa que, embora a renda dos brasileiros tenha mostrado sinais de recuperação, o retorno aos níveis pré-pandemia não se reflete igualmente no consumo tradicional. Ele aponta que novos padrões de gastos, como o aumento nas apostas, estão desviando recursos que poderiam ser destinados a outros setores do varejo.

Pessoa jogando na bet. Foto: Divulgação

 

Empresas como o Assaí têm notado esse deslocamento de gastos. O presidente da rede, Belmiro Gomes, destacou em uma teleconferência que as apostas online têm competido diretamente com outros segmentos do varejo, dificultando a retomada de vendas. Outros grandes varejistas, como Carrefour e Renner, preferiram não comentar sobre o impacto das bets até o momento.

Um estudo da AGP Pesquisas revelou que 38% da população brasileira já participa de apostas esportivas online, predominantemente homens jovens da classe C residentes no Sudeste.

Este público demonstra uma frequência semanal de apostas, com 49% indicando um aumento na atividade comparado ao ano anterior. Entre os apostadores, 23% admitiram reduzir despesas com roupas, 19% com supermercado, e 15% com refeições fora de casa, priorizando as apostas.

Especialistas como Alberto Serrentino, da consultoria Varese Retail, alertam para os riscos associados às apostas online, comparando seu impacto ao de vícios tradicionais.

Com a gamificação e a acessibilidade proporcionadas pela internet, o comportamento de jogo pode se tornar compulsivo, afetando não apenas o bolso dos apostadores, mas também sua saúde mental e social.

A regulamentação das apostas esportivas, prevista para iniciar em 2025, levanta debates sobre a taxação e o controle dessas atividades. A proposta de incluir um imposto sobre as bets na reforma tributária foi aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, refletindo preocupações crescentes com os efeitos sociais e econômicos do jogo desenfreado.

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