Vida Simples

Atualizado em 28 de agosto de 2011 às 16:10
Epicuro

A história foi cruel e ignorante com Epicuro. Transformou-o no símbolo oposto do que ele pregou. Epicuro é associado à busca obsessiva pelo prazer frívolo, mundano. Banquetes e orgias. Hedonismo extremado. No entanto Epicuro defendeu e praticou a simplicidade de vida por entender que, em isso, não existe chance de ser feliz. Sua vida está complicada? Os compromissos se amontoam, mesmo que a maior parte deles seja inútil? Você não consegue relaxar? Sua mente é agitada e pula de galho em galho, como um macaco? Ler Epicuro é um bom remédio. Imitá-lo, melhor ainda.

Epicuro (341-270 a.C.), como o filósofo e matemático Pitágoras, nasceu em Samos, na Grécia. Sua mãe era adivinha e o pai, professor. Foi um jovem precoce. Conta-se que aos 12 anos um professor lhe disse que todas as coisas vinham do caos. “E o caos, de onde vem?, respondeu o garoto. Epicuro fundou na capital Atenas uma singular escola de filosofia em que mestres e discípulos discutiam ao ar livre, num jardim. Essa escola ajardinada despertou profunda admiração de pensadores notáveis, posteriores a Epicuro, como Sêneca e Cícero. Os dois a citam com freqüência em suas obras.

Epicuro foi um escritor prolífico. Dizem que escreveu cerca de 300 livros. Sobraram apenas fragmentos desse trabalho. Conhece-se Epicuro pelo que restou e pelo que historiadores e outros filósofos disseram dele. É uma dádiva que tenha sobrevivido uma frase esplêndida sobre a qual o tempo não teve efeito: “Nunca é tarde demais nem cedo demais para filosofar”. Para que pensemos no que faz sentido e, eventualmente, no que não faz. Para que, quem sabe, nos reinventemos. Raras vezes a inteligência humana atingiu tamanha altura como naquela sentença. Por  “filosofar” deve-se entender a busca por uma vida feliz. Sem perturbações, sem medos que nos façam mortos em plena vida.

A dieta de Epicuro consistia, basicamente, de pão e água. O queijo era reservado para as ocasiões especiais. “A quem pouco não basta, nada basta”, escreveu ele. Epicuro tentou em vida evitar mal-entendidos em relação a sua doutrina. “Quando eu disse que o prazer é o fim, não me referia aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que se encontram em  desacordo comigo ou não me compreendem. Eu me referia ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.” O fato é que ele não foi bem-sucedido em seu esforço para evitar distorções posteriores: epicurista virou sinônimo de adepto dos prazeres sensuais, ainda que o filósofo que deu origem ao termo fosse a essência de uma vida simples.

Sua atitude diante da morte é comparada, pela coragem e pela serenidade, à de Sócrates. Numa carta a um discípulo ele escreveu assim: “Este é o último dia de minha vida. Sinto dores, mas o sofrimento é compensado pela alegria que traz à minha alma a recordação de nossas conversações.”

E então morreu.