Vidas Paralelas: Boris Johnson e José Serra

Atualizado em 23 de agosto de 2012 às 22:32
Johnson preso na tirolesa durante os Jogos

José Serra e Boris Johnson têm em comum a notoriedade trazida a quem comanda grandes cidades.  Serra virou uma celebridade política nacional quando foi prefeito de São Paulo. Johnson, quando se elegeu prefeito de Londres pela primeira vez. (Há poucos meses, ele ganhou um segundo mandato nas urnas.)

Serra e Johnson têm em comum também a ideologia de centro-direita. E os une, talvez mais que tudo, a ambição plena, total, irrestrita de subir ao topo do topo, Serra como presidente, Johnson como premiê.

E então começam as diferenças.

Do ponto de vista da aparência, a cabeleira alva, desorganizada e farta de Boris Johnson é uma atração para os fotógrafos e para os cinegrafistas. Serra se dá mal nessa categoria, e acaba sendo frequentemente comparado a personagens cômicos como Simpson.

Johnson é um mestre em relações públicas. Inventa maneiras de aparecer – e faz isso sem chocar ou irritar as pessoas, proeza para poucos. Nas Olimpíadas, ele foi notícia como se fosse um atleta medalhado. A apoteose foi quando ele, capacete ridículo na cabeça e duas bandeiras britânicas nas mãos, ficou preso numa tirolesa num parque em que os londrinos se juntavam para acompanhar os jogos em telões.

Na cerimônia de encerramento, as câmaras o pegaram dançando com entusiasmo desajeitado quando a banda Spice Girls subiu ao palco no Estádio Olímpico. Pronto: a imagem recebeu amplo destaque na mídia inglesa. Ninguém reparou que o primeiro-ministro David Cameron também se sacudia ao lado de Boris Johnson.

Serra no primeiro pronunciamento como prefeito de São Paulo: oi e tchau

Boris Johnson é intelectualmente cultivado. Tem, comprovadamente, a bagagem literária que Serra projeta ter sem que muita gente acredite. Estudou em Eton, a legendária escola para garotos entre 13 e 18 que, para muitos, é simplesmente a melhor do mundo. De Eton foi para Oxford, que dispensa apresentações.

Ingressou no jornalismo pelo Times, e em pouco tempo era diretor e colunista da revista conservadora Spectator. Escreveu livros diversos, e depois optou pela política, primeiro como parlamentar, pouco antes dos 40, e depois como prefeito de Londres.

Johnson lembra Lula num ponto que conta muito para políticos: o londrino vê nele alguém com quem poderia tomar uma pint – cerveja – num pub. Ele transmite a imagem oposta à de um esnobe, a despeito de ser filho de uma família rica e de ter tido uma formação tradicionalíssima.

É simpático, e aí se estabelece o maior contraste com Serra. Boris Johnson parece feliz no meio das pessoas que compõem a voz rouca das ruas. Serra luta para não demonstrar o incômodo.

Tanto carisma levou ao óbvio: fala-se cada vez mais em Boris Johnson para primeiro-ministro. Para muitos conservadores, Johnson poderia se tornar uma versão atualizada e masculinizada de Margaret Thatcher.

Mas aí entra um fato: ele acabou de se eleger prefeito. Os londrinos lhe deram quatro anos de mandato. É inimaginável, dentro do código político britânico, que Boris John rasgue o compromisso que assumiu com os eleitores. Ele ficaria inteiramente desmoralizado. Por isso, vai ter que esperar.

Serra, em compensação, não hesitou em deixar a prefeitura de São Paulo para ser governador do Estado — de olho na presidência. Perdeu a São Paulo a cujos cidadãos prometeu tomar conta da cidade por quatro anos  e não ganhou o Brasil. Mesmo assim, ei-lo de novo, como se nada houvesse acontecido, em busca da celebridade política que São Paulo dá a seus prefeitos  — como se outra vez buscasse um trampolim para aspirações presidenciais jamais chanceladas pelos brasileiros.