VÍDEO – Advogado usa “Senhor dos Anéis” para defender réu da trama golpista no STF

Atualizado em 12 de novembro de 2025 às 16:18
Igor Laboissieri, advogado do tenente-coronel Sérgio Cavalieri, no Supremo Tribunal Federal. Foto: Rosinei Coutinho/STF

Durante o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Igor Vasconcelos Laboissieri usou o universo de “O Senhor dos Anéis” para defender o tenente-coronel Sérgio Cavalieri, acusado de participar dos “kids pretos”, grupo de militares que pressionava o Exército a aderir a um golpe de Estado. Com uma hora reservada para sua sustentação oral, o defensor abriu a fala com uma referência ao livro “As Duas Torres”, de J. R. R. Tolkien, afirmando que a história ensinava a “não fazer julgamentos apressados”.

Cavalieri é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de difundir uma carta de pressão a comandantes do Exército e de tentar enfraquecer militares contrários ao golpe. O oficial integra o núcleo 3 do caso, formado por nove militares e um policial federal, todos apontados como articuladores de medidas para “neutralizar” autoridades civis e militares que resistiam à intentona.

Ao longo da fala, o advogado narrou um trecho de “O Senhor dos Anéis” em que os hobbits Merry e Pippin, após serem capturados por orcs, conhecem os Ents, criaturas que se assemelham a árvores. Segundo ele, a passagem simboliza o cuidado necessário antes de julgar alguém.

“Um Ent, chamado Barbárvore, olha para um morro e pergunta o nome daquilo. Os hobbits respondem ‘morro’, e o Ent diz: ‘Morro é uma palavra apressada demais para descrever o tamanho e a história dessa montanha’”, relatou.

Laboissieri usou a metáfora para defender que o julgamento de Cavalieri deveria levar em conta sua trajetória e não apenas os autos do processo. “O julgamento de Sérgio Cavalieri tem de ser coerente com a história dele. Não pode ser incoerente, assim como o ‘morro’ é para descrever a história”, prosseguiu.

A defesa sustentou que o militar não tinha qualquer papel estratégico nas Forças Armadas e negou que ele fosse o “kid preto” citado nas investigações. “Sérgio Ricardo Cavalieri não é forças especiais. Não é signatário”, disse o advogado, referindo-se à carta usada como peça central da acusação.

Ele ainda alegou que o tenente-coronel não possuía treinamento ou autoridade suficiente para participar de uma ação golpista. Laboissieri também afirmou que Cavalieri não participou da reunião de 28 de novembro, em Brasília, na qual o documento teria sido redigido. “Assim como o ‘morro’ descrito por Tolkien, é preciso olhar com cuidado para a história e entender os fatos antes de rotular alguém”, reforçou.

Cavalieri confirmou à Polícia Federal que havia militares contrários a Lula e favoráveis a uma “saída compulsória” do presidente, mas negou ter incentivado qualquer ação. O advogado encerrou a fala com apelos à prudência e à proporcionalidade da Corte, repetindo a lição dos Ents na saga de Tolkien: “Nem toda pressa é justiça”.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.