
O empreiteiro Renato Araújo, amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), promoveu uma distribuição da chamada “picanha do Flávio” em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Um vídeo gravado no pré-feriado da segunda-feira (29) mostra Renato entregando cortes de carne embalados com o nome e a imagem do parlamentar a pessoas que estavam em lanchas na região. As imagens circularam nas redes sociais e foram apagadas pouco depois, mas já haviam se espalhado em grupos políticos e jurídicos.
Renato Araújo preside o PL regional e foi candidato a prefeito de Angra dos Reis. O episódio foi revelado pelo jornalista Guilherme Amado, do PlatôBR, e reacendeu discussões sobre propaganda eleitoral antecipada às vésperas de 2026. Embora o cenário seja de lazer e verão, o uso de nome e imagem de um político em um brinde gratuito levantou alertas imediatos.
A assessoria de Araújo afirmou que a ação foi uma brincadeira, que apenas três picanhas teriam sido distribuídas e que os destinatários seriam conhecidos do empreiteiro. Segundo a versão apresentada, Flávio Bolsonaro não tinha conhecimento da iniciativa, e o vídeo foi retirado do ar para evitar interpretações negativas.
Amigo de Jair Bolsonaro, o empreiteiro fluminense Renato Araújo saiu distribuindo a “picanha do Flávio” para eleitores que curtiam o pré-feriado, na segunda-feira, 29, em lanchas em Angra dos Reis, no litoral do Rio.
O corte de carne era embalado com uma foto do senador, nos… pic.twitter.com/514v8Ty60I
— Guilherme Amado (@guilherme_amado) December 30, 2025
Mesmo assim, especialistas em direito eleitoral observam que a legislação é clara ao tratar de propaganda antecipada. Não é necessário pedido explícito de voto para caracterizar irregularidade. A simples associação de um político a um benefício, vantagem ou ação promocional fora do período permitido pode ser suficiente. No caso, há entrega gratuita de produto, rótulo com nome e imagem de um senador, registro em vídeo e divulgação pública.
A Justiça Eleitoral já decidiu, em eleições anteriores, que a distribuição de brindes com conotação política pode ferir o princípio da igualdade entre candidatos, ainda que não haja solicitação direta de apoio eleitoral. Promoções envolvendo alimentos e figuras políticas, inclusive no campo bolsonarista, já foram questionadas e barradas pelo Judiciário em outros pleitos.
Até agora, não há confirmação oficial de investigação. Ainda assim, o episódio passou a circular nos bastidores do Ministério Público Eleitoral e entre advogados especializados. Caso haja provocação formal, o caso pode ser analisado como propaganda antecipada, uso indevido de benefício e eventual abuso de poder econômico.