
Dois dias após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, o governador Cláudio Castro (PL) foi comparado ao rei Salomão pelo “profeta mirim” Moisés Andrade, influenciador evangélico com mais de 588 mil seguidores no Instagram.
“Quando ele [Salomão] pediu, Deus concedeu a sabedoria. E deu ainda mais, deu riquezas. Mas Deus recompensou ainda mais Salomão, que ele se tornou um dos reis mais poderosos daquela época, que chegou até o ouvido da rainha de Sabá, da Etiópia. Que Deus abençoe e conceda sabedoria”, disse Andrade em vídeo.
A comparação religiosa foi feita no momento em que o governo estadual enfrenta repercussões nacionais e internacionais pelo alto número de mortes durante a megaoperação, criticada por entidades de direitos humanos e por integrantes do governo federal.
🚨 Veja l Cláudio Castro é comparado ao Rei Salomão por ‘profeta mirim’ durante café com pastores após operação policial no Rio pic.twitter.com/VC2N0ozQoC
— Notícias Paralelas (@NP__Oficial) November 2, 2025
Apesar das críticas, Castro intensificou o discurso de valorização das forças policiais e anunciou um pacote de benefícios ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
O anúncio foi feito em vídeo gravado nas instalações do Bope e publicado nas redes sociais do governador. Castro prometeu reajuste salarial e o que chamou de “maior investimento em armamento e infraestrutura já feito de uma vez só”, no valor de R$ 31 milhões. “É fundamental valorizar o nosso Bope. Esses investimentos garantirão equipamentos de última geração para atender cada dia melhor a população”, declarou.
Durante o evento, o governador agradeceu à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pelo apoio às medidas e afirmou que novos projetos de ampliação dos gastos com segurança pública devem ser votados “nas próximas semanas”. Deputados aliados participaram do anúncio, exibido como um ato político de apoio às forças de elite da PM.
A operação que motivou o pronunciamento deixou um saldo de 121 mortos e foi alvo de denúncias de execuções sumárias e ocultação de corpos. Mesmo assim, Castro reforçou o discurso de “combate ao crime organizado” e disse que não se intimidará com críticas.
A estratégia política parece ter surtido efeito. Segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada neste domingo (2), a aprovação do governador subiu dez pontos percentuais após a operação — de 43% em agosto para 53% no fim de outubro. Já a desaprovação caiu de 41% para 40%, e o percentual dos que não souberam responder recuou de 16% para 7%.
O levantamento indica que a melhora na imagem de Castro está diretamente ligada à área de segurança pública. A avaliação positiva da política de segurança passou de 22% para 39%, enquanto a negativa caiu de 45% para 34%. A pesquisa ouviu 1.500 pessoas entre 30 e 31 de outubro, com margem de erro de três pontos percentuais.
Apesar do aumento na aprovação, 52% dos fluminenses disseram se sentir menos seguros após a operação, contra 35% que afirmaram o contrário. Ainda assim, a maioria dos entrevistados avalia que o governo “agiu contra o crime organizado”, e não por “motivações eleitorais”.