
A brasileira Marina Lacerda, hoje com 37 anos, relatou publicamente ter sido vítima de abusos pelo bilionário Jeffrey Epstein em 2002, quando tinha apenas 14 anos. Em entrevista à repórter Carolina Cimenti, da TV Globo, em Nova York, na última quinta-feira (25), ela descreveu com detalhes a progressão dos abusos que sofreu.
“As coisas começaram a piorar. Começou tirando a blusa. Depois, o sutiã. Depois de tirar o sutiã, ele começava a se tocar, aí começou a me tocar, e foi evoluindo. Não sei como aceitei isso, mas eu aceitei”, afirmou Marina, que se tornou uma das testemunhas-chave no caso.
Marina veio a público no início de setembro, quando concedeu uma entrevista coletiva ao lado de outras vítimas de Epstein para pedir que o Congresso estadunidense aprove uma lei que obrigue a divulgação de todos os documentos da investigação. O “Fantástico” exibe reportagem completa sobre o tema neste domingo (28). De acordo com a TV estadunidense ABC News, a brasileira forneceu “evidências essenciais” que ajudaram os promotores a acusar e condenar posteriormente o empresário.
O primeiro contato com Epstein aconteceu quando Marina tinha 14 anos e procurava trabalho. Ela foi levada por uma amiga para fazer uma massagem na mansão do bilionário.
Entrevista exclusiva – “As coisas começaram a piorar. Começou tirando a blusa. Depois, o sutiã. Depois de tirar o sutiã, ele começava a se tocar, aí começou a me tocar, e foi evoluindo. Não sei como aceitei isso, mas eu aceitei”, afirma a brasileira Marina Lacerda, que relatou… pic.twitter.com/C7f1JHa9cw
— g1 (@g1) September 28, 2025
“Ele tinha um quarto de massagem, um quarto escuro, sem janelas. Só tinha uma cama e uma prateleira cheia de cremes”, descreveu. “Ele chegou e falou: ‘Oi, eu sou o Jeffrey’, e começou a conversar comigo. ‘Quantos anos você tem’, ‘de onde você é’… começou a perguntar da minha vida, e eu comecei a responder”. Marina conta que, ao ver a mansão, deduziu tratar-se de alguém importante, mas não sabia exatamente quem era Epstein.
Na sala de massagem, Epstein disse para a amiga de Marina “ficar confortável”. A amiga então tirou a blusa e ficou só de sutiã. “Aí ela falou: ‘Marina, tira a blusa’. Eu fiquei pressionada, eu falei ‘meu Deus, o que eu faço nessa situação?’ Estava até com vergonha de falar ‘não’, não sabia como sair daquela situação. Uma pessoa que parecia ser superpoderosa”, relatou.
“Tirei a blusa, fiz uma massagem e pronto, acabou. Ele deu dinheiro para ela, fui embora, pegamos o táxi”. Na época, a amiga minimizou o fato, dizendo que “não era nada”.
Um tempo depois, Epstein ligou para a amiga e pediu que elas voltassem. “Naquele tempo eu pensei ‘gente, ele não está me tocando, não tem nada de errado’. Mas as coisas começaram a piorar, e evoluiu para outras coisas”, contou Marina.
A brasileira revela que antes do episódio com Epstein, já havia enfrentado outras situações de violência sexual quando era menor de idade, incluindo abusos pelo padrasto aos 12 anos. “Quando você já é abusada sexualmente, você perde a noção. Naquele tempo, eu perdi a sensibilidade do que é certo e errado em termos de sexo e abuso, porque o que eu já tinha passado com meu padrasto, não tem pior”.
Na acusação formal contra Epstein, Marina foi identificada como “vítima menor 1”. Ela conheceu o bilionário em 2002, quando dividia um quarto no bairro do Queens, em Nova York, com a mãe e a irmã. As três haviam acabado de se mudar para os Estados Unidos. Marina trabalhava em três empregos para sustentar a família quando surgiu a oportunidade que se revelaria uma armadilha.
Os abusos se estenderam por três anos, até Epstein começar a perder interesse nela quando tinha entre 16 e 17 anos, alegando que estava “velha demais”.
Jeffrey Epstein foi acusado de tráfico sexual de menores entre 2002 e 2005, sendo acusado de aliciar dezenas de meninas para encontros sexuais em suas mansões. Em 2008, firmou um acordo com a Justiça, mas o caso voltou à tona em 2019, quando autoridades federais consideraram o acordo inválido e determinaram nova prisão por tráfico sexual.
O bilionário morreu na cadeia poucos dias após ser preso, com a perícia concluindo que se tratou de suicídio. Epstein mantinha relações com figuras influentes, incluindo Donald Trump, que nega envolvimento e diz ter rompido com ele em 2004.