VÍDEO – Bruno Henrique não teve a mesma coragem de Gerson: o futebol pune quem denuncia racismo

Atualizado em 23 de dezembro de 2020 às 8:58

Gerson, do Flamengo, gravou vídeo com um diretor do clube ao lado, em que ele fala que denunciou o jogador Ramirez e o técnico Mano Menezes por “todos os negros”.

Corajoso, merece todo apoio.

Mas provavelmente sabe o risco que corre.

Vampeta, que é negro, o criticou, e à boca pequena outros jogadores também devem criticá-lo.

O futebol brasileiro ainda é marcado por um ambiente conservador, para não dizer reacionário.

Quando Grafite, então jogador do São Paulo, denunciou um jogador argentino por ofensa racista, em 2005, até o ex-treinador da Seleção Brasileira Luiz Felipe Scolari disse que situações como aquela, de ofensa racista, eram comuns no futebol e sugeriu que Grafite estava com excesso de suscetibilidade.

Em 2014, o goleiro Aranha, do Santos, foi ofendido por torcedores do Grêmio, em jogo na Arena.

Uma torcedora foi identificada, e ele a denunciou. Ela foi punida, mas ele também, de certa forma.

“Por mais que eu estivesse concentrado no jogo, aquilo não saiu da minha mente. Então, eu decidi tomar aquela decisão e não me arrependo. Paguei com a minha carreira? Paguei. Me arrependo? Não”, diria, alguns depois, o goleiro.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Aranha denunciou o racismo presente na elite do futebol:

“Eu sabia que se não tivessem provas, eu ia me ferrar, porque eu conheço o futebol, eu sei como são as pessoas do futebol. Existe um pensamento racista na elite do futebol, dos cartolas. Eu sabia que teria consequência. Depois daquele ato, eu percebi uma má vontade comigo.”

Talvez isso explique por que Bruno Henrique, também do Flamengo, negou que tenha sofrido ofensa racial durante a partida.

Um laudo encomendado pelo clube revela que, além de Gerson, ele também foi chamado de “negro” associado a um palavrão.

A frase foi identificada por peritos em linguagem de surdos.

Mas Bruno Henrique fez questão de contrariar o laudo e dizer que não houve nada disso.

Assim como Aranha, ele conhece o mundo do futebol, e talvez tema pagar com sua carreira a denúncia contra racistas.

Compreensível, mas lamentável.

O racismo precisa ser combatido em todas as frentes, dos corredores do Carrefour até o gramado do Maracanã ou a diretoria de uma grande empresa.