VÍDEO: Candidato apoiado por Milei admite ter recebido dinheiro de suspeito de tráfico

Atualizado em 4 de outubro de 2025 às 8:52
O deputado José Luis Espert e o presidente da Argentina, Javier Milei. Foto: Reprodução

O deputado argentino José Luis Espert, um dos principais nomes do partido A Liberdade Avança, do presidente Javier Milei, admitiu ter recebido US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) de uma empresa ligada a Federico “Fred” Machado, investigado por envolvimento com o narcotráfico. A revelação aprofundou a crise política do governo argentino às vésperas das eleições legislativas de 26 de outubro.

Um extrato do Bank of America, obtido pelo jornal La Nación, mostra a transferência da estrutura financeira de Machado para a conta do parlamentar. O empresário é procurado pela Justiça dos Estados Unidos e cumpre prisão domiciliar na cidade argentina de Viedma, enquanto Washington solicita sua extradição.

O portal argentino teve acesso a documentos oficiais utilizados como prova em um julgamento de 2023, no Texas, em que a parceira de Machado, Debra Mercer-Erwin, foi condenada por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Ela foi considerada culpada de quatro das sete acusações que enfrentava, incluindo conspiração para facilitar o tráfico de cocaína e violar registros de aeronaves norte-americanas. As informações constam também da denúncia apresentada pelo líder peronista e candidato Juan Grabois, que levou o caso à Justiça argentina.

Espert confirma pagamento

Em vídeo publicado nas redes sociais na quinta-feira (2), Espert afirmou que o valor recebido foi referente a um serviço de consultoria privada prestado após sua derrota na eleição presidencial de 2019.

“Não se tratou de um pagamento do senhor Machado, mas sim de uma empresa que solicitava meus serviços profissionais […] Uma das condições que impus é que o pagamento dos $200.000 fosse feito exclusivamente por transferência de outro banco que também estivesse nos Estados Unidos, de forma que a operação fosse totalmente transparente”, declarou.

O deputado confirmou que recebeu os valores da empresa guatemalteca Minas del Pueblo, associada a Machado, mas reforçou que o pagamento estava ligado à sua atuação como economista. Ele explicou que conheceu Machado como “um empresário admirador” de suas ideias liberais e que o empresário chegou a apoiá-lo durante a campanha de 2019.

Segundo Espert, o depósito foi realizado em uma conta declarada nos Estados Unidos como adiantamento por serviços de consultoria. O parlamentar afirmou ainda que só tomou conhecimento das acusações de narcotráfico contra Machado em 2021.

Espert classificou a denúncia como uma “campanha suja” organizada pelo adversário Juan Grabois para manchar sua imagem. “Posso ter pecado por ingenuidade, mas criminoso jamais”, afirmou. O deputado ainda disse que os recursos recebidos não têm relação com sua atividade política, e sim com seu trabalho profissional.

“Enquanto cidadãos privados precisam se justificar constantemente, os políticos corruptos que há décadas vivem dos recursos dos mais pobres nunca dão nenhuma explicação”, criticou.

Machado e a crise no entorno de Milei

Fred Machado é investigado pelos Estados Unidos por supostamente integrar uma rede de narcotráfico que utilizava aviões particulares para o transporte de drogas. Segundo a imprensa argentina, ele chegou a emprestar uma aeronave para Espert viajar pelo interior do país em compromissos de campanha antes de ser eleito deputado.

A ligação entre Espert e Machado provocou desconforto no governo e entre aliados de Javier Milei. A decisão do presidente de manter o apoio a Espert como candidato a deputado nacional por Buenos Aires gerou preocupação na Casa Rosada e ampliou a tensão política a poucos dias das eleições legislativas.