VÍDEO – Carla Zambelli, quem diria, agora reclama do vazamento de Moro: “Isso é maligno”. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 25 de abril de 2020 às 10:24

Em live ontem à noite, depois que o Jornal Nacional divulgou o print de uma conversa não republicana que ela tentou travar com Sergio Moro, a deputada federal Carla Zambelli disse estar decepcionada com o ex-ministro da Justiça.

Quem entregou a conversa para o Jornal Nacional foi o próprio Moro, para demonstrar que Jair Bolsonaro mentiu em pronunciamento à nação ao dizer que o ex-juiz havia aceitado a troca de comando na PF depois de sua nomeação para o STF.

Pela conversa fica claro que Carla Zambelli tentou seduzir Moro, com uma proposta indecente: se ele aceitasse a nomeação de um nome da confiança de Bolsonaro para a direção-geral da PF, ela, em troca, iria trabalhar para Jair Bolsonaro nomeá-lo para a corte suprema.

“Não estou à venda”, respondeu Moro à mulher de quem foi padrinho de casamento, há pouco tempo.

Carla Zambelli é uma das parlamentares mais próximas de Bolsonaro — inclusive estava com ele no pronunciamento de ontem à tarde — e, por isso, não é exagero imaginar que estivesse cumprindo ordem do chefe ao procurar Moro.

Seja como for, como deputada federal, ela estava ali se oferecendo para traficar influência.

Além da proximidade com Bolsonaro, Carla Zambelli também é ligada a procuradores e promotores da ala mais radical do lavajatismo no Ministério Público.

Um deles assistia à live, como fez questão de dizer a própria deputada. É Cássio Conserino, o promotor que fez aquela denúncia sem pé nem cabeça contra Lula por conta do Triplex, em que confunde o filósofo Hegel com o teórico marxista Engels.

Sua ligação mais notória, porém, é com procuradora da república Thaméa Danelon, que declarou em mensagem para Deltan Dallagnol que tinha acerto com advogado Modesta Carvalhosa para ajudar a redigir o pedido de impeachment de Gilmar Mendes.

Carla tentou emplacar Thaméa Danelon na Procuradoria Geral da República, para ser a chefe da Lava Jato em Brasília. Mas Augusto Aras, depois de receber a indicação, recuou diante do escândalo Vaza Jato que revelou o conluio de Thaméa com Carvalhosa.

Thaméa acabou com um prêmio de consolação: deixou São Paulo para virar subprocuradora no notório Tribunal Regional Federal da 4a. Região.

Em outro diálogo comprometedor, Thaméa aparece combinando com Dallagnol que colocaria os “movimentos sociais” — no caso, o “Nas Ruas” de Carla Zambelli — para fazer barulho e ajudar o amigo em uma manobra processual, no auge da articulação pró-impeachment.

Enfim, Zambelli era uma militante da Lava Jato e, como declara no vídeo, tinha Moro como ídolo. Agora considera o vazamento do ex-juiz “maligno”, embora não haja paralelo entre os vazamentos da Lava Jato e este.

Naqueles vazamentos, há indicação de crime, como o que ocorreu na véspera da eleição de 2014, quando uma declaração distorcida de Alberto Youssef foi para as páginas da revista Veja.

No caso de Zambelli, não. Moro está dando conhecimento público a uma conversa da qual participou. Não é crime. Só mostra que a deputada bolsonarista quis, sim, traficar influência.

Moro foi padrinho de casamento de Carla Zambelli, para quem disse: “Não estou à venda”