Os mandamentos do manifestante

Atualizado em 17 de junho de 2013 às 17:03

Um pequeno manual para quem, depois de reclamar pelo Facebook, decidiu sair à rua.

(Lista elaborada por ANDRES VERA, o prodígio dos Bálcãs)

01. Vá de transporte público. Não é um apelo sustentável. É prático. Estacionar o carro próximo à concentração inicial e acompanhar a marcha em seu trajeto por 5 horas significa caminhar 10 quilômetros – descontada a volta.

02. Use tênis. Roupas confortáveis são fundamentais para aguentar a longa caminhada. E para correr. Ainda que a repercussão negativa da violência nas primeiras manifestações deva apaziguar os ânimos, é bom estar preparado para se afastar o quanto antes de qualquer confusão.

03. Capriche nos acessórios. Neste caso, nada de bolsas ou penduricalhos. Dê preferência a lenço ou máscara de pintor para proteger o rosto do gás lacrimogêneo e óculos de natação para proteger os olhos de estilhaços.

04. Leve vinagre. Embebido no líquido, um lenço sobre o rosto ajuda a neutralizar o efeito do gás lacrimogêneo. Melhor de tudo: vinagre, apesar de tudo, não é crime.

05. Não use lente de contato. A substância química do gás lacrimogêneo fica presa na lente, aumentando a irritação nos olhos. Prefira óculos de grau.

06. Ande em grupo. É mais seguro e garante sua integridade. Na última manifestação, registros mostraram a polícia espancando um “manifestante” solitário. Era um jornalista.

07. Filme o máximo que puder. Registrar sua participação na íntegra eventualmente leva ao registro precioso de abusos cometidos pela polícia. Um tutorial completo sobre como usar a câmera você pode ler abaixo.

08. Não filme indiscriminadamente. A verdadeira “arma branca” da última manifestação foi a câmera do celular. Encarar de perto formações policiais da tropa de choque costumava evá-los, paradoxalmente, a reagir agressivamente.

09. Não filme o rosto dos líderes da manifestação. Eles temem represálias posteriores da polícia. Os mais exaltados certamente irão censurá-lo. Pichadores em ação também não gostam de cinegrafistas.

10. Seja pacífico. Diante de confronto com a PM ou atos de depredação, afaste-se. Provocar e incitar os policiais ou promover qualquer destruição desvirtua a causa (seja lá qual seja a sua) e legitima a reação desproporcional da polícia.

Boa manifestação.

Como usar sua câmera

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Os protestos do Movimento Passe Livre, MPL, viraram um dos eventos mais filmados e fotografados do Brasil. Até agora, mais de 190 mil pessoas confirmaram a presença no Largo da Batata, onde ocorre o quinto encontro. Aconteceu.

Famílias estão se preparando para comparecer. A mãe do nosso colaborador Andres Vera avisou ao filho que estará lá. Um amigo veio de Curitiba para se juntar às fileiras.

Todos com uma câmera, naturalmente.

Muitas dessas imagens estão sendo usadas como prova em casos de abuso de autoridade. Não existe passeio no parque com a PM. Sua câmera é uma arma e deve ser usada de forma responsável. (Dê também uma olhada no vídeo dos protestos no Maracanã, ocorridos no domingo, ao pé deste artigo).

O movimento Occupy americano fez um ótimo tutorial com dicas de como registrar um protesto. O vídeo acima traz essas sugestões de maneira clara e límpida.

Basicamente:

  1. Prepare-se: conheça seu equipamento. Carregue a bateria. Desligue os dispositivos que gastam energia. Se sua câmera tiver alça, envolva-a em torno do pulso.

  2. Registre data e hora.

  3. Mantenha-se em segurança. Preza sua integridade física. Evite confusão. Mas, em caso de confronto, continue filmando! Na medida do possível, não banque o heroi.

  4. Trabalhe em equipe. Não ande sozinho. Tenha alguém com você para ajudar em caso de problemas.

  5. Coloque o seu vídeo no YouTube com um título direto. Por exemplo: “Colunista do Diário é atingido por bomba da PM”. Use tags como MPL, Movimento Passe Livre, Protestos etc.

  6. Filmou algo comprometedor e que você acha que pode trazer problemas legais? Consulte um advogado.

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