VÍDEO – Corpos são retirados da mata em kombi após massacre no RJ

Atualizado em 29 de outubro de 2025 às 14:35
Vista aérea mostra dezenas de pessoas deitadas lado a lado no meio de uma rua, cercadas por um grupo maior de manifestantes. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

Após a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou mais de 130 mortos na terça (28), moradores e voluntários passaram mais de 12 horas retirando corpos da região de mata conhecida como Vacaria, na divisa entre as duas comunidades. O local se tornou o epicentro da tragédia, e o resgate improvisado foi feito com kombi e veículos 4×4, em meio ao medo e ao silêncio das ruas.

Desde a noite de terça, um grupo de moradores e familiares das vítimas se mobilizou para levar os corpos até a Praça do Inter, na Vila Cruzeiro, onde dezenas deles foram deixados lado a lado. A ação começou por volta das 21h, após horas de tiroteio, e seguiu madrugada adentro.

“Foi um filme de terror. Para onde olhava, as trilhas tinham cinco corpos cada. O cheiro de gás lacrimogênio ainda deixava a gente incomodado. Tinham também rastros de sangue”, relatou um motoboy de 31 anos, morador da Penha, ao jornal O Globo.

Os primeiros corpos foram levados em uma kombi até o Hospital Getúlio Vargas, o mais próximo da região. No trajeto, os voluntários foram abordados por policiais, que chegaram a ameaçar levá-los à delegacia. Por medo, decidiram deixar os outros corpos em frente a uma creche, no Parque Proletário, onde as famílias começaram a se reunir.

Um dos voluntários relatou que encontrou pessoas amarradas e com tiros na testa, além de corpos com granadas nas mãos. “A angústia é grande, uma tristeza. Conhecia muitos desde a infância, mas mudaram de vida depois. A forma como foram encontrados é de execução”, contou o morador, sob anonimato.

A operação, que tinha como objetivo cumprir mandados contra o Comando Vermelho, terminou com cenas de desespero e revolta. Durante a manhã de quarta, moradores da Vila Cruzeiro e do Complexo da Penha realizaram protestos e exibiram faixas contra o governador Cláudio Castro (PL).

Enquanto o governo estadual fala em 58 mortes oficiais, a Defensoria Pública e movimentos sociais afirmam que o número de vítimas é muito maior, chegando a 132. Imagens registradas por moradores mostram dezenas de corpos sendo retirados da mata em carros particulares, sob aplausos e gritos de “justiça”.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.