
Após a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que deixou mais de 130 mortos na terça (28), moradores e voluntários passaram mais de 12 horas retirando corpos da região de mata conhecida como Vacaria, na divisa entre as duas comunidades. O local se tornou o epicentro da tragédia, e o resgate improvisado foi feito com kombi e veículos 4×4, em meio ao medo e ao silêncio das ruas.
Desde a noite de terça, um grupo de moradores e familiares das vítimas se mobilizou para levar os corpos até a Praça do Inter, na Vila Cruzeiro, onde dezenas deles foram deixados lado a lado. A ação começou por volta das 21h, após horas de tiroteio, e seguiu madrugada adentro.
“Foi um filme de terror. Para onde olhava, as trilhas tinham cinco corpos cada. O cheiro de gás lacrimogênio ainda deixava a gente incomodado. Tinham também rastros de sangue”, relatou um motoboy de 31 anos, morador da Penha, ao jornal O Globo.
Os primeiros corpos foram levados em uma kombi até o Hospital Getúlio Vargas, o mais próximo da região. No trajeto, os voluntários foram abordados por policiais, que chegaram a ameaçar levá-los à delegacia. Por medo, decidiram deixar os outros corpos em frente a uma creche, no Parque Proletário, onde as famílias começaram a se reunir.
Um dos voluntários relatou que encontrou pessoas amarradas e com tiros na testa, além de corpos com granadas nas mãos. “A angústia é grande, uma tristeza. Conhecia muitos desde a infância, mas mudaram de vida depois. A forma como foram encontrados é de execução”, contou o morador, sob anonimato.
Corpos descendo da mata, levados numa Kombi pic.twitter.com/9RO9qmPvzf
— MINUTO NOTÍCIA RIO (@minutonoticiarj) October 29, 2025
A operação, que tinha como objetivo cumprir mandados contra o Comando Vermelho, terminou com cenas de desespero e revolta. Durante a manhã de quarta, moradores da Vila Cruzeiro e do Complexo da Penha realizaram protestos e exibiram faixas contra o governador Cláudio Castro (PL).
Enquanto o governo estadual fala em 58 mortes oficiais, a Defensoria Pública e movimentos sociais afirmam que o número de vítimas é muito maior, chegando a 132. Imagens registradas por moradores mostram dezenas de corpos sendo retirados da mata em carros particulares, sob aplausos e gritos de “justiça”.