
A jornalista Ruth Marcus, que atuou por mais de 40 anos no Washington Post, afirmou em entrevista que deixou o jornal após ser impedida de publicar uma coluna crítica durante a gestão de Jeff Bezos. Segundo ela, o veto editorial comprometeu sua independência profissional e se tornou o ponto de ruptura para sua saída. “Quando concluí que não poderia mais dizer aos meus leitores o que acreditava, tive que pedir demissão”, declarou.
Segundo Marcus, a censura ocorreu no contexto de mudanças editoriais promovidas por Bezos em meio ao retorno de Donald Trump à Casa Branca. A jornalista disse que sua coluna defendia “liberdades individuais e livre mercado”, mas foi considerada inadequada pela direção do veículo. “Quando concluí que não poderia mais dizer aos meus leitores o que acreditava, tive que pedir demissão”, declarou.
Em entrevista à Folhapress e à GloboNews, Marcus relatou que não se tratou de um episódio isolado. Para ela, várias organizações de mídia nos Estados Unidos passaram a adotar uma postura mais cautelosa diante de Trump. “É ingênuo pensar que não há autocensura. Houve capitulação voluntária por parte dessas redes”, afirmou, citando inclusive grandes emissoras de televisão como CBS e ABC.
A ex-editora do jornal destacou que o ambiente de intimidação não se restringe ao Washington Post. Segundo ela, veículos tradicionais reduziram críticas abertas ao republicano por receio de retaliações políticas e econômicas. “Trump é mais perigoso e agressivo agora do que em seu primeiro mandato. Há um clima de medo no jornalismo americano”, disse.
Ex-jornalista do Washington Post diz que deixou o jornal, de propriedade de Jeff Bezos, após ser impedida de publicar uma coluna. Ela conta que várias organizações de notícias demonstraram estar intimidadas por Trump.
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— GloboNews (@GloboNews) September 8, 2025
Marcus ressaltou que o próprio Bezos, que adquiriu o Post em 2013, havia mudado a linha editorial no ciclo eleitoral. Ela lembrou que o empresário cancelou um editorial favorável à democrata Kamala Harris em 2024, rompendo uma tradição histórica do jornal de apoiar candidatos. “Foi uma escolha deliberada de se afastar de posicionamentos claros”, comentou.
Para a jornalista, essa mudança representa um risco direto à liberdade de imprensa. “Se veículos de peso recuam diante da pressão, abre-se espaço para normalizar ataques e restringir vozes críticas”, avaliou. Ela acrescentou que o impacto não se limita aos jornalistas, mas afeta também a qualidade da democracia norte-americana.
Atualmente, Ruth Marcus colabora com a revista New Yorker e participou do Festival Piauí de Jornalismo, realizado nos dias 6 e 7 de setembro em São Paulo. No evento, reforçou que a experiência serve de alerta global sobre como pressões políticas e econômicas podem influenciar diretamente o jornalismo.
Aos 67 anos, a jornalista disse sentir tristeza por ter deixado o Post, mas ressaltou estar determinada a continuar defendendo a independência da imprensa: “É um dever profissional e democrático resistir à autocensura. Só assim é possível preservar o papel do jornalismo diante de governos que tentam limitar críticas”.