
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) atacou o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e admitiu que o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, tentou dar um golpe de Estado durante a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta (12).
“O senhor não só fala fora dos altos, como o senhor atropela o Congresso Nacional, quando declara já de antemão, sem nem saber o que está no projeto de anistia, que a anistia é inconstitucional. Eu vou lembrar ao senhor que lá em 1988, os constituintes elencaram inicialmente 5 crimes que eram insuscetíveis de anistia: terrorismo, tráfico de drogas, tortura e crimes hediondos. E tinha um quinto lá chamado, não sei se o senhor conhece, crime contra o Estado Democrático e Direito”, disse Flávio.
Flávio Bolsonaro admite que papai Bolsonaro tentou um golpe de estado ao pedir anistia em sabatina com Paulo Gonet. Até tu, Flavinho? E ainda tem Tiu França que duvida do golpe 🤡 pic.twitter.com/nMQCI8PeMm
— GugaNoblat (@GugaNoblat) November 12, 2025
O parlamentar afirmou que Gonet agiu em “conluio” com o Supremo Tribunal Federal (STF) e questionou se ele “não tem vergonha” por colaborar com o que chamou de perseguição política.
“O senhor não tem vergonha? Esse conluio, esse jogo combinado, essa farsa. E o senhor colaborando com a perseguição de pessoas inocentes. O senhor não se sente mal de fazer isso, não? Tudo isso que o senhor está fazendo em conluio com o Supremo é nulo em um Estado democrático de direito”, disse Flávio em tom exaltado.
A declaração elevou a tensão na CCJ, que analisa a recondução de Gonet ao cargo de PGR por mais dois anos. O procurador foi indicado para continuar à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR) e precisa ainda da aprovação do plenário do Senado, que deve votar o nome no mesmo dia.
➡️ Flávio Bolsonaro acusa Gonet de conluio com STF: "Não tem vergonha?"
A fala se deu durante sabatina do PGR para recondução do cargo, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, nesta quarta (12) pic.twitter.com/OsiPorNlqq
— Metrópoles (@Metropoles) November 12, 2025
A sabatina foi marcada por embates entre aliados do governo e parlamentares ligados ao bolsonarismo, que questionaram a atuação do Ministério Público em processos ligados aos atos golpistas de 8 de Janeiro.
Flávio também criticou o posicionamento de Gonet sobre o projeto de anistia aos investigados por participação nos ataques às sedes dos Três Poderes. “O senhor atropela o Congresso quando diz que um texto de anistia é inconstitucional”, afirmou.
“O senhor irá tirar uma prerrogativa do Congresso Nacional para fazer o processo de impeachment contra ministro do Supremo Tribunal Federal. Porque o que se sabe é que o senhor irá opinar para dizer que só o PGR pode oferecer o impeachment de ministro”, completou.
Em resposta, Gonet manteve o tom técnico e afirmou respeitar as prerrogativas do Legislativo. “Essa é uma decisão que cabe ao Congresso Nacional tomar. Não tenho dúvida da competência do Congresso Nacional para se manifestar a respeito de anistia, mas entendo que há polêmica em torno disso do ponto de vista jurídico”, declarou o procurador.
O embate expôs novamente o clima de hostilidade entre o bolsonarismo e instituições como o STF e a PGR. Desde o início das investigações sobre os atos antidemocráticos, aliados de Jair Bolsonaro têm acusado o Judiciário e o Ministério Público de perseguição política e abuso de poder. A PGR, sob comando de Gonet, apresentou denúncias contra mais de 1.400 envolvidos.
Apesar dos ataques, a expectativa no Senado é de que Gonet seja reconduzido ao cargo com apoio majoritário, inclusive de parlamentares de centro. A avaliação é que o procurador tem mantido uma postura técnica e equilibrada em relação a temas sensíveis, o que tem garantido o respaldo da cúpula do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.