
O General Fabien Mandon, chefe do Estado-Maior da Defesa da França, assustou os franceses ao afirmar que o país precisa restaurar a “força de espírito para aceitar o sofrimento a fim de proteger quem somos” e estar pronto para “aceitar a perda dos nossos filhos”. As declarações foram feitas durante o Congresso de Prefeitos de França, gerando intenso debate público e reações na mídia.
O general argumentou que a Rússia está convencida da fraqueza europeia, mas defendeu a capacidade de resposta francesa. “Moscou está convencida de que os europeus são fracos. E, no entanto, somos fundamentalmente mais fortes do que a Rússia”, afirmou Mandon durante o congresso da Associação de Autarcas de França.
Ele alertou, porém, para a necessidade de preparação psicológica: “Se não estivermos preparados para aceitar a perda dos nossos filhos ou sacrifícios econômicos, estaremos em risco”.
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O discurso ocorreu no mesmo dia em que o governo francês publicou um guia de sobrevivência para preparar a população para crises, incluindo conflitos armados.
O documento recomenda que cada cidadão tenha um kit básico para três dias, com lanterna, rádio a pilhas, documentos essenciais, roupa quente, água e cobertor. A iniciativa insere-se no contexto de tensões geopolíticas desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
A ministra da Defesa, Catherine Vautrin, saiu em defesa do general, afirmando que Mandon “tem todo o direito de falar das ameaças” enfrentadas pelo país. Ela argumentou que as declarações foram “retiradas do contexto para fins políticos” e refletem a linguagem própria “de um líder consciente de que jovens soldados arriscam a vida todos os dias pela Nação”.
Mandon pediu aos autarcas que divulgassem a mensagem para que o país esteja “pronto, dentro de três ou quatro anos, para demonstrar a nossa força à Rússia e obrigá-la a abandonar as suas ambições”.
O general alegou que a França tem responsabilidade acrescida comparativamente aos parceiros europeus por possuir “um Exército de referência”, e tem como objetivo duplicar o número de reservistas para 80 mil, além dos 200 mil militares no ativo.
A Revisão Estratégica Nacional de 2025, documento que orienta as autoridades de defesa, indica que a França deve “preparar-se para a possibilidade de uma intervenção importante e de alta intensidade na vizinhança da Europa até 2027-2030”.
Mandon foi mais específico em sua avaliação: “Sei, por fontes às quais tenho acesso, que a Rússia está se preparando para um confronto com nossos países por volta de 2030 (…) Ela está convencida de que seu inimigo existencial é a Otan”.
O governo francês planeja destinar € 413 bilhões para gastos militares entre 2024 e 2030, em meio a cortes nos gastos públicos com o objetivo de fortalecer o tesouro nacional. Apesar disso, pesquisas indicam que 64% dos franceses temem que o conflito se alastre para a França, embora muitos se sintam distantes da realidade da guerra.