Em mais uma demonstração de que é mal dirigida no departamento que é o coração da empresa, o jornalismo, a Globo errou feio ao dizer que uma cerimônia presidida por Jair Bolsonaro no Planalto não homenageou as vítimas da covid-19. As imagens mostram o contrário. Uma participante pediu um minuto de silêncio em respeito aos mortos pela doença. Isso é fato, e jornalismo não pode negar fatos.
O comentarista Paulo Alceu, que foi repórter da TV Globo no Rio de Janeiro, detonou a emissora, e com razão. “Isso é mentira, isso é que é fake news. Dizer que não houve homenagem aos mortos da covid-19, por interesse em atingir a presidência da república, é baixo, é triste, é leviano. Isso não é jornalismo, absolutamente não é jornalismo. Você pode até contestar a cerimônia, você pode ser contra, você pode até ser contra a cerimônia que defendia o tratamento precoce, mas jamais deturpar as informações.”
Mais adiante, ele lembrou que trabalhou durante muitos anos na TV Globo. “Foi uma bela de uma escola, onde tive momentos inesquecíveis e fundamentais para minha carreira”, afirmou, para concluir, com argumento incontestável:
“O que acontece hoje é um atentado ao jornalismo, ter opinião contrária enriquece o debate. E como enriquece. Mas manipular a informação significa falta de caráter, falta de respeito com o nosso maior consumidor, o telespectador, você.”
Por fim, ele aconselha: “Não abuse, TV Globo, da inteligência das pessoas, não abuse da mentira como notícia.”
Paulo Alceu é hoje funcionário da Record e, é claro, atende aos interesses de seu patrão ao detonar a Globo. Ele sabe, por ter trabalhado lá, que a Globo é tecnicamente uma escola de jornalismo, mas não pode se mostrar surpreso com a desonestidade da emissora.
Quando ele fazia reportagens para o Jornal Nacional, sabia que a Globo já tinha feito uma cobertura criminosa da apuração dos votos da eleição de 1982 no Rio, um caso que ficou conhecido como escândalo Proconsult, e certamente viu o veículo manipular as informações sobre o comício pelas diretas na Praça da Sé em 1984 — de forma a passar uma mensagem confusa, que fazia aquele ato parecer uma comemoração pelo aniversário da cidade de São Paulo.
É claro que, como todos nós, sabe que a edição do último debate das eleições presidenciais de 1989 foi tendenciosa. São fatos que não podem ser negados, sem contar a mais recente campanha contra Lula e o PT, que não atendia a interesses jornalísticos.
Ao investir contra Bolsonaro, Globo segue a tradição de tratar a notícia como instrumento dos negócios de seus controladores — Bolsonaro, efetivamente, reduziu a verba de publicidade destinada à empresa.
A diferença é que, em relação a Bolsonaro, ela se tornou mais vulgar e conseguiu, com o erro grosseiro, transformar Bolsonaro em vítima. E ele se aproveitou, e tratou, logo cedo, de compartilhar o comentário do ex-repórter da Globo.
A emissora acabou por lhe dar fôlego, quando Bolsonaro tinha voltado para as cordas.