VÍDEO – Jovem negra é obrigada a abrir bolsa para provar que não furtou item

Atualizado em 5 de setembro de 2025 às 12:30
A estudante Júlia Neves e seu namorado, João Roberto. Foto: Reprodução

A estudante universitária Júlia Neves (20) denunciou ter sido coagida a abrir sua bolsa em um bar de Maceió para provar que não havia cometido furto. Ela e o namorado, João Roberto, de 19 anos, registraram boletim de ocorrência e afirmam que foram vítimas de racismo. O episódio ocorreu na madrugada de terça (3), no Bombar, no bairro do Prado.

Segundo o relato, quatro homens cercaram Júlia e João e os acusaram de furtar a bolsa de uma cliente, com base na descrição de “uma pessoa de camisa branca”. Sentindo-se acuada, Júlia começou a filmar a abordagem. Nas imagens, ela se recusa a abrir a bolsa diante de desconhecidos, enquanto um dos homens insiste que a medida seria “só para esclarecer”.

A situação se agravou com a chegada de uma mulher que se identificou como coronel Rosa Coimbra. “Ela chegou porque eu me levantei e falei que tinham quatro homens me coagindo. Ela então veio dizendo que era mulher e me pediu pra abrir a bolsa”, contou a estudante.

Pressionada, Júlia entregou a bolsa, que foi revistada sem que nada fosse encontrado. Em lágrimas, ela encerrou a gravação. A polícia foi chamada, mas, segundo Júlia, houve mais constrangimento.

“Com os policiais, sofri mais uma violência naquela noite”, relatou. Ela afirma que os agentes não detiveram ninguém e só depois foi mostrado que as câmeras de segurança do bar poderiam ter esclarecido a situação antes das acusações. “Saí de lá em um estado de completo choque, não tive o apoio de nenhum funcionário”, prosseguiu.

Um dos homens disse ser segurança apenas quando a polícia chegou. O bar afastou o funcionário e classificou o episódio como “lamentável”, pedindo desculpas. Em nota, declarou que “nasceu e se mantém na periferia da zona sul de nossa cidade com o propósito de ser um lugar de encontro, diversidade e inclusão” e prometeu apurar o caso.

O namorado de Júlia afirmou ter deixado o local com “sentimento de derrota”. Ele explicou que sempre foi orientado a adotar cuidados para evitar constrangimentos.

“Nos sentimos coagidos e invalidados porque desde pequeno sou ensinado a nunca sair sem identidade, não entrar de bolsa nos locais, nas lojas, sempre prestar muita atenção. Aí quando você cumpre tudo isso, não erra em nada, eles ainda acham um jeito de culpar algo que você não fez”, contou.

O casal gravou um vídeo relatando a denúncia e pediu Justiça. Eles também procuraram o Instituto do Negro de Alagoas (Ineg), que informou que tomará medidas legais.

“Vamos buscar agir em várias esferas contra quem cometeu o crime de calúnia, ao afirmar que ela cometeu um crime de furto, e também pelo constrangimento ilegal, e obviamente pelo racismo praticado”, afirmou o advogado Pedro Gomes.

A Polícia Militar de Alagoas declarou em nota que orientou a vítima a registrar o caso, mas não respondeu se apura a conduta da coronel envolvida. O advogado do Ineg disse ainda que pedirá esclarecimentos sobre um dos homens que alegou ser policial sem apresentar identificação.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.