VÍDEO – Jungmann nega o que disse em entrevista gravada: presidente do TRF-4 o orientou a descumprir a lei para manter Lula preso

Atualizado em 22 de fevereiro de 2020 às 19:38

A mentira tem perna curta. Ou, neste tempos de rede social, o desmentido pode vir tão rápido quanto a propagação de uma fake news. Acredita na fraude quem quiser. Mas quem tem o mínimo de compromisso moral com a verdade sabe facilmente de que lado ficar.

Raul Jungmann, que foi ministro de Fernando Henrique Cardoso e de Michel Temer, tentou desdizer o que disse em entrevista gravada pela TV Democracia, de Fábio Pannunzio.

Na quinta-feira, o público tomou conhecimento de que, em julho de 2018, o então presidente do Tribunal Regional Federal da 4a. Região pediu a ele que agisse ilegalmente diante da decisão de soltar o ex-presidente Lula.

“Há um conflito de competência no seu tribunal”, disse Jungmann a Thompson Flores, conforme ele mesmo lembrou na entrevista gravada. “E eu pediria ao senhor que nos ajudasse a deslindar esse conflito, a resolver isso, porque nós não sabemos mais o que fazer. Ele me disse: olha, eu estou me dirigindo ao meu gabinete, e lhe peço que comunique ao doutor Valeixo, que era o superintendente no Paraná e que hoje é o diretor da Polícia Federal e diga a ele que vou tomar uma decisão e que não aceite, enfim, como se diz, não mexa nesta questão”.

O que Thompson estava sugerindo é que o alvará de soltura concedido pelo desembargador Rogério Favreto, plantonista do tribunal naquele dia, não fosse cumprido.

Jungmann contou que se recusou a ser portador de uma ordem ilegal ao superintendente da PF. “Doutor Thompson, me permita, eu não posso fazer isso. Não posso. Eu sou o ministro da Segurança Pública, mas eu não posso fazer isso. Acho que o senhor, na pressa, talvez tenha se esquecido, ou, que é normal, mas isto está totalmente sob controle do Judiciário. E qualquer ação minha, eu poderei, poderá ser a mim imputado como obstrução de justiça. Ele entendeu rapidamente, e entrou em contato com o doutor Valeixo.”

Jungmann não diz, porque não participou dessa conversa entre Thompson Flores e o superintendente da PF no Paraná, mas não precisa ser nenhum Sherlock Holmes para concluir que Thompson Flores determinou a Valeixo que não cumprisse o alvará.

O que Jungmann contou a Pannunzio é a descrição de um crime, a confirmação de um enredo que já se sabia.

A PF não cumpriu o alvará de soltura concedido por autoridade competente, primeiro em razão da interferência de Moro, que estava de férias,  e, mesmo assim, assinou despacho para determinar aos policiais que descumprissem a decisão do desembargador Favreto.

Depois com a decisão de João Pedro Gebran Neto, que não estava no plantão naquele dia e não tinha nenhuma autoridade sobre o HC impetrado pelos deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous.

Thomson Flores, por fim, depois que a PF não cumpriu a decisão de Favreto, assinou um despacho para invalidar a decisão da autoridade plantonista.

Com a repercussão de suas palavras, Jungmann divulgou hoje nota para dizer que “o sr. Presidente Thompson Flores jamais nos fez quaisquer pedido ou interferiu no sentido de manter preso o ex-Presidente Lula.”

Não é isso o que ele disse na entrevista gravada.

Apesar disso, afirmou que, “em entrevista que demos esta semana ao canal Democracia, em momento algum afirmamos, demos a entender ou insinuamos qualquer interferência do sr. Presidente a Thompson Flores, como relatado acima”.

Não são o que suas palavras revelaram.

O TRF-4 e Moro violaram a lei em julho de 2018, quando Bolsonaro despontava no cenário eleitoral, e impediram Lula de aparecer em público — na época, as entrevistas dele também eram proibidas.

A aparição de Lula em público, que ocorreria com o cumprimento do alvará de soltura, ainda que por algumas horas, não ajudava no projeto de levar a extrema direita ao poder.

Este é o fato.

Mas quem participou dessa manobra não pode dizer. Um dia, isso lhes pesará muito na consciência, se é que já não está pesando.