
O presidente Lula (PT) afirmou neste sábado (20), durante discurso na Mercosul, em Foz do Iguaçu, que a América do Sul voltou a ser “assombrada” pela presença militar de uma potência que não pertence à região. A declaração foi uma referência direta aos Estados Unidos, que vêm sinalizando com a possibilidade de intervenção militar na Venezuela.
“Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, afirmou Lula em seu discurso aos líderes do bloco.
O petista também fez uma analogia sobre a construção de pontes como um símbolo de liberdade na América do Sul enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “sobe muros” e endurece as políticas contra imigração.
“Nós estamos dando exemplo de que construir ponte para passar mercadoria e para o povo dos países transitarem livremente é um exemplo de que a liberdade de ir e vir tem que ser assegurada e as fronteiras não pode ser proibitivas. Meus amigos e minhas amigas, construir uma América do Sul próspera e pacífica é a única doutrina que nos convém”, disse.
Nesta semana, Lula já havia sinalizado que pretende conversar novamente com Trump antes do Natal para tentar evitar uma escalada militar na América Latina. “Não queremos guerra no nosso continente. Todo dia tem uma ameaça no jornal e nós estamos preocupados. Agora, vai chegar o Natal e talvez eu tenha que conversar com Trump outra vez pra saber o que é possível o Brasil contribuir para um acordo diplomático e não para a guerra”, declarou.
O presidente ressaltou que o Brasil tem buscado atuar como interlocutor para reduzir as tensões. “Eu tive a oportunidade de conversar com Maduro por quase 40 minutos, e depois com Trump. Falei para o Trump da preocupação do Brasil com a situação da Venezuela, que isso aqui é uma zona de paz, não é zona de guerra. Que as coisas não se resolvem dando tiro”, afirmou.
O recado de Lula a Trump e ao mundo.
Mais pontes, menos muros pic.twitter.com/Cz7gxrZj5G
— Abel Ferreira Comunista! (@AugustodeS62143) December 20, 2025
As declarações ocorrem em meio ao aumento das tensões entre Estados Unidos e Venezuela, que se intensificaram nos últimos meses. Desde agosto, o governo Trump vem deslocando um forte aparato militar para o Caribe. Inicialmente, a Casa Branca justificou a movimentação como parte de ações de combate ao tráfico internacional de drogas.
Trump, no entanto, passou a endurecer o discurso contra o governo venezuelano. O presidente estadunidense acusou o líder do país vizinho, Nicolás Maduro, de usar recursos do petróleo para financiar o que chamou de “regime ilegítimo”, além de associar o governo de Caracas a “terrorismo ligado a drogas, tráfico de pessoas, assassinatos e sequestros”. Maduro, por sua vez, acusa Washington de tentar derrubar seu governo por meio de pressão econômica, política e militar.
No discurso no Mercosul, Lula afirmou que as ameaças à soberania da América do Sul não se limitam a disputas externas. Segundo ele, os riscos também se manifestam por meio de guerras, do avanço de forças antidemocráticas e da atuação do crime organizado transnacional. Para o presidente brasileiro, a região precisa reafirmar seu compromisso histórico com a paz e a solução diplomática de conflitos.
Lula concluiu o discurso defendendo que a América do Sul deve preservar sua condição de região livre de conflitos armados e reiterou que o diálogo diplomático é o único caminho para evitar uma crise humanitária e política de grandes proporções no continente.