
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta terça-feira (21/10) o julgamento do chamado núcleo 4, conhecido como grupo de desinformação, no processo sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A sessão foi reaberta com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, que afirmou: “Materialidade já está comprovada, o que devemos analisar é a autoria”.
“O modus operandi desse novo populismo digital extremista é sempre o mesmo, sendo possível identificar o comportamento atípico dos ataques sistematizados, iniciando-se de forma concomitante e cessando a comando específico da organização criminosa”, disse Moraes. “São milicianos covardes que atacam não só os seus inimigos, mas atacam também os familiares”.
“Utilizaram-se técnicas militares para influenciar determinado público-alvo e moldar seus comportamentos para atingir os objetivos determinados pelo líder da organização criminosa, já condenado na ação penal 2668, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro”, afirmou o magistrado, antes de detalhar a participação de cada um dos réus.
“A estratégia adotada pelas milícias digitais de atacar determinados agentes políticos, previamente escolhidos, por conta de sua posição contrária ao ideário antidemocrático, com a divulgação de notícias fraudulentas, com farta desinformação, discurso de ódio pelas redes sociais e pelos serviços e mensageria privada, isso é figura-chave e foi figura-chave desse núcleo na tentativa de desacreditar as regras do jogo democrático”.
Alexandre de Moraes no julgamento do Núcleo 4:
“Materialidade já está comprovada, o que devemos analisar é a autoria”.
Ou seja, mais golpistas irão pra cadeia! pic.twitter.com/bE9g47rurP
— Abel Ferreira Comunista! (@AugustodeS62143) October 21, 2025
O julgamento envolve sete réus acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de propagar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas.
A expectativa é de que o julgamento seja concluído ainda nesta terça-feira, com definição de culpados e possíveis penas. Caso não haja tempo suficiente, uma sessão extra está prevista para quarta-feira (22).
Após Moraes, devem votar os ministros Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino, que preside a Primeira Turma. O caso é parte de uma série de ações que buscam responsabilizar os envolvidos nos atos golpistas de 2022, marcados pela tentativa de anular o resultado das urnas e por ataques às instituições democráticas.
A maioria dos réus do núcleo 4 é formada por militares. Entre eles, o major expulso do Exército Ailton Gonçalves Barros, acusado de discutir com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, um possível golpe de Estado em dezembro de 2022.
Segundo a Polícia Federal (PF), as conversas foram registradas em três áudios, que embasaram a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Barros foi candidato a deputado estadual pelo PL do Rio de Janeiro e se apresentava como o “01 do Bolsonaro”, mas não foi eleito.
Outro acusado é o major da reserva Ângelo Martins Denicoli, que, segundo a PF, teria atuado com o ex-marqueteiro do atual presidente argentino Javier Milei na difusão de conteúdos falsos sobre supostas fraudes nas urnas. Ele é apontado como coordenador de uma campanha de desinformação conduzida com Fernando Cerimedo, poupado da denúncia.
Já o engenheiro Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do grupo Voto Legal, também está entre os réus. A pedido do PL, ele elaborou o relatório de 2022 que apontava falhas nas urnas e serviu de base para a tentativa do partido de anular parte dos votos.
O subtenente Giancarlo Gomes Rodrigues, que atuava na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Alexandre Ramagem, é acusado de usar o sistema First Mile para espalhar informações falsas. Outro réu, o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas do Exército, aparece em um áudio sugerindo a necessidade de “sair das quatro linhas da Constituição” para viabilizar um golpe.
Já o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, conhecido como “Velame”, é investigado também na Operação Contragolpe por integrar um grupo suspeito de planejar o sequestro e assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. “Quatro linhas da Constituição é o caceta”, disse em conversa interceptada pela PF.
O sétimo réu, o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet, é apontado como integrante de um núcleo paralelo da Abin. Segundo as investigações, ele teria ordenado que um subordinado agredisse um assessor do então presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso. A PGR o acusa de usar sua posição para proteger aliados políticos e perseguir adversários do governo anterior.
Os sete réus respondem por cinco crimes: organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado por violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e deterioração de patrimônio tombado. O julgamento é parte de um processo mais amplo que inclui quatro núcleos investigados.