
O deputado federal Otoni de Paula (MDB), que também é pastor evangélico, afirmou nesta quarta-feira (29) na Câmara dos Deputados que inocentes da comunidade morreram durante a chacina realizada na terça-feira (28) no Rio de Janeiro. O parlamentar apontou indícios de execuções e contestou a classificação das mortes. Ele declarou que esses jovens “nunca portaram fuzis”, mas estariam sendo incluídos como suspeitos.
Otoni relatou o caso de um trabalhador baleado no rosto ao entrar de carro na comunidade. Segundo o deputado, o veículo teria sido retirado da cena e uma arma teria aparecido posteriormente. Para o parlamentar, as imagens obtidas por familiares serão entregues às autoridades competentes.
O deputado também disse que recebeu registros de pessoas com mãos amarradas e ferimentos na nuca. Ele afirmou ainda que as imagens incluem sinais de violência extrema. “Nós tivemos imagens hoje de pessoas, bandidas ou não, que foram executadas com as mãos amarradas, com tiro na nuca. Tivemos acesso à imagem de uma pessoa que teve a cabeça decepada. Tivemos também acesso a outra imagem horrível, de uma coluna exposta; alguém com habilidade no manuseio de faca abriu a coluna, que ficou exposta em um completo requinte de crueldade. O que nós queremos é que a polícia trabalhe dentro da lei”, disse o deputado.

Otoni afirmou que a polícia “não tem autorização para executar” e disse ter encontrado “indícios fortíssimos” de execuções programadas. “Ninguém aqui está defendendo o crime. Eu sou um deputado de direita conservador, mas eu sou cristão. A polícia não tem autorização para matar, não tem autorização para executar. Ela pode matar eventualmente um bandido para proteger-se, para proteger a própria polícia, em uma eventual troca de tiros. Mas estamos tendo indícios fortíssimos de que houve execuções, execuções programadas, execuções articuladas”.
Durante outro discurso, o deputado afirmou que quatro filhos de membros de sua igreja morreram durante a operação e que moradores da favela enfrentam estigmas durante ações policiais. Otoni mencionou relatos sobre o impacto do uso da força em regiões de baixa renda.
“Sabe por quê? Preto correndo em dia de operação na favela é bandido. Preto com chinelo havaiana sem camisa pode ser trabalhador, correu, é bandido. É fácil, senhoras e senhores, para quem está no asfalto e não conhece a realidade da favela”, afirmou. Em outro momento, parlamentares mencionaram imagens que circulam digitalmente com sinais de violência extrema. “É fácil subir nessa tribuna com o filho de vocês morando no AP. É fácil subir nessa tribuna e dizer ‘que bom, matou’. É porque o filho de vocês não está lá dentro, como meu filho está, o tempo todo dentro de uma comunidade. Sabe qual é o meu pânico? É que ele é preto”, disse Otoni.
4 filhos de membros da igreja do pastor Otoni de Paula, meninos que nunca tocaram numa arma, foram assassinados com o aplauso de ditos evangélicos!
O crime? Serem pobres e morarem em comunidades marginalizadas.
O inferno celebra o evangelho do bolsonarismo! pic.twitter.com/ki15hhi8qP
— Andrade (@AndradeRNegro2) October 29, 2025
A operação mobilizou cerca de 2.500 agentes nos Complexos do Alemão e da Penha para cumprir mandados contra integrantes do Comando Vermelho. Registros oficiais apontam 64 mortos, sendo 60 civis e quatro policiais, além de apreensões e detenções. As apurações seguem com acompanhamento de órgãos estaduais e federais.

