A jornalista e escritora Milly Lacombe se pronunciou sobre o escândalo envolvendo o prefeito de São José dos Campos (SP), Anderson Farias (PSD), que havia censurado sua participação em uma feira literária da cidade. O evento, previsto para ocorrer em setembro, foi cancelado depois que outros autores desistiram de participar em solidariedade à jornalista.
Bolsonarista, Farias justificou a decisão dizendo que Milly “não respeitava os valores cristãos da família”. Semanas depois, o prefeito anunciou sua separação após ter sido flagrado em um relacionamento extraconjugal com uma funcionária da prefeitura, e sua ex-esposa pediu uma medida protetiva, acusando-o de agressão e ameaças.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Milly comentou o caso com ironia e indignação. “Sabia que um dia eu gravaria esse vídeo, eu só não achei que ia ser tão cedo”. A jornalista, que é defensora de pautas ligadas à diversidade e à inclusão, afirmou que preferia ter ido ao evento para dialogar.
“Eu não deveria estar rindo, porque é um assunto muito sério, mas esse é o cara que disse que eu não respeito os valores cristãos da família. Eu teria gostado de ter ido a São José dos Campos falar, dialogar. A minha pauta é inclusão de pessoas marginalizadas. Um núcleo familiar que inclua, que seja inclusivo. Imagina que lindo se eu pudesse ter ido lá estabelecer esse diálogo com as pessoas da cidade, até ele, né?”, afirmou.
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Na gravação, Milly defendeu que o debate sobre família precisa ser feito de forma honesta e sem hipocrisia. “A gente precisa tirar essa discussão sobre o que é a família desse ambiente de tabu. A gente sabe quantas violências são praticadas dentro de um núcleo que também é chamado de família. E como a gente pode, então, fazer com que a família seja um lugar mais amoroso, um lugar afetuoso, um lugar que represente de fato os valores crísticos, do respeito, da dignidade, da inclusão, do afeto”, declarou.
A jornalista também criticou o moralismo de políticos que usam o discurso religioso como instrumento de censura. “Esses julgamentos morais estão sempre, sempre, inevitavelmente, escondendo alguma outra coisa. Se a gente for falar de família mesmo, de uma maneira cristã, a gente vai ter que falar de mães e filhas que estão em situação de rua, de mães solos que vivem em precariedade, de famílias que colocam crianças LGBT na rua. Esse é o debate honesto sobre família — não impedir o diálogo, cancelar uma feira literária e, semanas depois, estar envolvido em um escândalo com amante, boletim de ocorrência e suspeita de violência de gênero”, concluiu.