
Durante o julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Flávio Dino pediu um aparte à ministra Cármen Lúcia para comentar o assassinato do ativista estadunidense Charlie Kirk, apoiador do presidente Donald Trump, e relacionar o caso ao debate sobre a anistia no Brasil. Para Dino, perdoar crimes contra a democracia não é sinônimo de pacificação.
O ministro recordou que nos Estados Unidos, após a invasão ao Capitólio em 2021, Trump concedeu perdão a envolvidos. Segundo Dino, isso não resolveu a polarização e o ambiente político se manteve tenso, culminando no ataque contra Kirk, baleado enquanto discursava em um evento universitário em Utah.
“Ontem, anteontem, infelizmente houve um grave crime político. Um jovem, que é de uma posição política aparentemente do lado do atual presidente dos Estados Unidos, mas pouco importa, levou um tiro. E é curioso notar, porque há uma ideia segundo a qual anistia, perdão, é igual a paz. E foi feito perdão nos Estados Unidos. E não há paz”, disse Dino.
Em sua fala, o ministro reforçou que “o que define a paz que nós sempre devemos buscar não é a existência do esquecimento. Às vezes a paz se obtém pelo funcionamento adequado das instâncias repressivas do Estado”.
O ministro Flávio Dino acaba de citar a brutal morte de Charlie Kirk durante o julgamento no STF para criticar propostas de anistia:
“Nos EUA houve perdão e não há paz” pic.twitter.com/gjfTV4fHwz
— Sam Pancher (@SamPancher) September 11, 2025
O comentário foi entendido como uma resposta ao movimento de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que articulam a aprovação de uma anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O discurso também surge em meio a pressões externas. O governo de Donald Trump tem buscado interferir na condução do processo no Brasil.
Após gestões do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, a Casa Branca aumentou os ataques à Justiça brasileira, alegando que o julgamento contra Jair Bolsonaro representa cerceamento à liberdade de expressão. Dino, porém, defendeu que o fortalecimento institucional, e não o perdão indiscriminado, é o caminho para a estabilidade democrática.
Charlie Kirk, morto aos 31 anos, presidia a Turning Point USA, uma organização conservadora juvenil fundada por ele em 2012 e que ganhou influência dentro do Partido Republicano. Nos últimos anos, a entidade liderou campanhas de mobilização em escolas e universidades e ajudou a estruturar a base de apoio a Trump.
O ativista foi baleado no pescoço durante um evento em Utah e não resistiu aos ferimentos, segundo a imprensa estadunidense. Sua morte teve repercussão internacional e foi citada por Dino como exemplo da persistência da violência política mesmo em países que adotaram medidas de perdão.