
A convenção da juventude do partido de extrema-direita AfD, em Giessen, Alemanha, foi marcada por um episódio que reacendeu comparações com a retórica dos anos 1930. Enquanto manifestantes protestavam do lado de fora, Alexander Eichwald adotou entonação rígida, trejeitos e expressões que lembraram a era nazista, chamando os presentes de “camaradas de partido” e declarando: “Partilhamos aqui o nosso amor e lealdade à Alemanha” e “É e continua a ser nosso dever nacional proteger a cultura alemã de influências estrangeiras”.
Um vídeo divulgado pela responsável pela comunicação dos Verdes na Renânia do Norte-Vestfália, Mareile Ihle, reforçou o impacto da cena e gerou forte repercussão nas redes sociais.
Delegados presentes relataram críticas imediatas, e Eichwald chegou a ser questionado, sob aplausos, se seria um informante do Serviço Federal de Proteção da Constituição. Ele justificou o “R” arrastado dizendo ser russo-alemão. Fora do palco, o candidato rejeitou especulações sobre uma possível encenação. Questionado pelo portal DPA, respondeu apenas “sim” ao ser perguntado se sua fala havia sido séria.
Candidato juvenil de AfD provoca indignación con un discurso de tono hitleriano
La intervención de Alexander Eichwald durante el congreso juvenil de la AfD en Giessen encendió las alarmas incluso dentro de la propia formación. Su discurso, acompañado de gesticulaciones y una… pic.twitter.com/cogJpdenXs
— DW Español (@dw_espanol) December 1, 2025
A polêmica se expandiu com a circulação online de supostas referências ao passado do candidato, incluindo menções ao nome artístico “Alex Oak” e imagens antigas em um jornal regional. Eichwald, porém, continua a negar que seu discurso tenha sido um projeto performático e insiste que o conteúdo foi apresentado com seriedade.
A direção nacional da AfD reagiu rapidamente. Segundo Tino Chrupalla, líder do partido, Eichwald integra a federação da Renânia do Norte-Vestfália, mas sua fala representou um afastamento dos princípios da legenda. “Com o conteúdo e a forma da sua apresentação de candidatura, Alexander Eichwald distanciou-se dos princípios do partido”, declarou à agência Deutsche Presse-Agentur. A executiva federal anunciou que verificará a condição de filiação do candidato.
O episódio ocorre em meio a sinais contraditórios sobre o futuro da nova juventude da AfD. Embora Chrupalla tenha elogiado a “profissionalização” da organização e dito que ela deve permanecer “desagradável”, o partido ainda mostra cautela em relação ao novo líder juvenil, Jean-Pascal Hohm, que utilizou o termo “troca de população” em entrevista recente.
Chrupalla evitou endossar a expressão e afirmou que “não se deve chamar-lhe isso”, indicando que o dirigente está “à experiência”.
Apesar do discurso oficial de contenção, os especialistas veem continuidade no radicalismo. Durante as falas de candidatura no congresso, nomes como Mio Trautner, Julia Gehrkens e Cedric Krippner defenderam medidas extremas como “que as deportações no país finalmente comecem” e “remigração de milhões de pessoas”.
Para o especialista Christoph Schulze, a eleição de Hohm representa a “manutenção da linha radical”. O cientista político Wolfgang Schroeder concorda, dizendo que a nova juventude é formada “pelas mesmas pessoas” que dominavam a antiga organização.