
Por Gabriel Siqueira*
Em um vídeo exclusivo obtido pelo DCM, o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), conhecido por suas políticas ambientais desastrosas, foi confrontado na Conferência do Clima da ONU (COP30) em Belém e, após tentar se esquivar, admitiu os efeitos negativos da crise climática em sua cidade.
Desorientado e sem assessores, Topázio foi interpelado pelo jornalista Gabriel Siqueira: “Alguém já viu um negacionista do Clima numa Conferência do Clima?”.
Visivelmente irritado, o prefeito se aproximou de forma intimidatória e tentou inverter a lógica da discussão. “É que vocês só ficam focados no problema, e não na solução. Eu não tô aqui discutindo o problema, eu tô discutindo solução”, declarou, já tentando encerrar a conversa.
Questionado sobre qual dos problemas da cidade pretendia resolver, Topázio entregou a confissão: “A solução é que está chovendo mais nos municípios, tá alagando mais, e nós temos que tratar da questão do lixo, esse é o problema”. Veja o vídeo:
A fala, arrancada sob pressão, expõe a tática do prefeito para desqualificar o debate científico. Em entrevista à Jovem Pan, canal conhecido por dar voz a pautas negacionistas, Topázio enquadrou o consenso científico como uma mera disputa política, afirmando que “quando a gente fala em mudança climática, a gente poderia falar por uma questão ideológica se existe ou não existe… tem gente que diz que não, tem gente que diz que sim”.
Essa postura contradiz o marketing de sua própria gestão. Enquanto apresenta o programa “Lixo Zero” na COP30, suas ações em Florianópolis são apontadas por especialistas como um sistemático desmonte ambiental. Essa contradição raramente é noticiada pela imprensa de Santa Catarina, amplamente alinhada ao poder local.
A hipocrisia se aprofunda na questão do lixo. Ao mesmo tempo em que usa a pauta para se promover, Topázio trabalha ativamente para sucatear a COMCAP, a companhia pública de coleta de lixo, reconhecida pela excelência do serviço. Segundo denúncias do sindicato e de vereadores de oposição, a prefeitura tem negado a realização de novos concursos, deixando a empresa sem pessoal e equipamentos. Enquanto isso, entrega a coleta na parte mais rica da cidade, o Norte da Ilha, para empresas privadas em contratos suspeitos.
A terceirizada Amazon Fort, por exemplo, teve sua contratação investigada no âmbito da Operação Presságio, da DEIC (Diretoria Estadual de Investigações Criminais). A investigação desbaratou um esquema de corrupção de pelo menos R$ 29 milhões, o que levou à prisão de um dos principais “padrinhos” políticos de Topázio, Ed Pereira (PSB), então Secretário de Turismo, Cultura e Esporte, acusado de usar sua influência para fraudar contratos públicos.
O resultado foi o caos na coleta: o serviço privado se mostrou ineficiente, e a já sobrecarregada COMCAP (Companhia de Melhoramentos da Capital) foi obrigada a desviar seus escassos recursos para limpar a sujeira deixada pela terceirizada no Norte da Ilha.
As evidências do projeto anti-ambiental de Topázio são vastas:
- A aprovação de um Plano Diretor em 2023, segundo o então vereador de Florianópolis e atual deputado estadual de SC, Marquito (PSOL), fragilizou a proteção ambiental para favorecer a especulação imobiliária.
- A implementação de obras de dragagem controversas, como na Lagoa da Conceição, denunciadas pelo renomado professor da UFSC, Paulo Horta, como um desastre que enterra “um berçário de vida” marinha. Horta também já havia alertado para os riscos da dragagem em Canasvieiras.
- O sucateamento da Fundação Municipal de Meio Ambiente (Floram), que, segundo denúncias, opera com um quadro funcional 84% menor do que o previsto, tornando a fiscalização ambiental em Florianópolis praticamente inexistente.
O flagrante na COP30 não é apenas uma gafe. Ele desmascara a estratégia de um político que reconhece os efeitos da crise climática apenas quando confrontado diretamente, enquanto suas políticas, do Plano Diretor ao lixo, trabalham ativamente para agravar as mesmas enchentes que ele agora admite serem um “problema”.
*Sobre o autor
Gabriel Siqueira é jornalista, analista de dados e doutorando em Administração pela UFSC. Com mais de 20 anos de experiência em organizações socioambientais, combina jornalismo investigativo e narrativas baseadas em dados para dar visibilidade a temas de justiça climática e sustentabilidade.
Atualmente, colabora com a Global Citizen, cobrindo comunidades tradicionais da Amazônia, e atua como Consultor de Comunicação no Centro Brasil Pelo Clima. Foi também Analista de Dados do projeto Na Mesa da COP30, que garantiu que pelo menos 30% da alimentação na COP30 seja de origem da agricultura familiar da Amazônia. Gabriel também já foi Diretor de Comunicações da Global Ecovillage Network (GEN), onde liderou a cobertura de múltiplas Conferências Climáticas da ONU.