
O professor de artes Andrei Pereira Dorneles foi agredido em 25 de junho de 2025 ao sair para fumar um cigarro na Escola de Educação Básica Muquém, em Florianópolis. Segundo ele, em entrevista ao portal Brasil Fora da Caverna, um homem se aproximou dizendo: “É contigo mesmo que eu quero falar – eu queria ter uma arma para dar um tiro no meio da tua cara”.
Andrei tentou se proteger entrando na escola, mas acabou caindo e foi atingido por socos e pontapés. O acusado é Manoel Abílio Pacífico, líder do grupo “Pais Conservadores de Florianópolis” e defensor da militarização das escolas, que já havia perseguido a orientadora educacional Juliana Andozio por apoiar o uso do banheiro feminino por uma estudante trans.
Juliana enfrentou ameaças desde 2022, após defender direitos de estudantes trans, e relata perseguição sistemática: “Essas pessoas stalkearam todos os professores. Quem tinha adesivo [do PT] no carro foi perseguido. Uma mãe disse que ia me pegar na porrada na rua”.
Apesar de recorrer à Secretaria de Educação de Santa Catarina, estado governado pelo bolsonarista Jorginho Mello (PL), ela sofreu punições administrativas, sendo afastada e suspensa sem remuneração. Quando retornou, encontrou a comunidade escolar sob clima de medo e intimidação, incluindo fogos, pedras e ovos lançados pelos conservadores.
Pais conservadores perseguem e atacam professores da escola de Muquém, em Florianópolis (SC). Olha o bizarro caso da orientadora perseguida por defender o direito de aluna trans escolher seu banheiro, e professor agredido a socos e pontapés. Vejam isso aqui. pic.twitter.com/K3k2zhmZ07
— GugaNoblat (@GugaNoblat) October 7, 2025
Três anos depois, Andrei também foi alvo de perseguição digital e falsas acusações. A Secretaria de Educação abriu um processo administrativo, mas arquivou em setembro, concluindo que ele cumpriu todas as normas legais. Mesmo assim, o professor declarou: “Minha vida virou um inferno”. Seu marido precisou deixar o trabalho por medo de represálias, e o casal mudou de residência às pressas.
Em agosto, foi a vez da professora Cecília Rios enfrentar situação semelhante após propor atividade sobre desigualdade social; um pai espalhou a foto da avaliação, que foi usada politicamente por vereadores da extrema-direita para reforçar a militarização da escola.
O movimento pró-militarização, promovido pelo grupo Pais Conservadores de Florianópolis, busca transformar a Escola Muquém em modelo cívico-militar, com apoio de parlamentares do PL e de políticos locais. Em audiência pública na Câmara, o vereador Leonel Camasão (PSOL) criticou a iniciativa, destacando que a Escola é estadual e que a militarização não resolve os problemas estruturais. : “É um projeto autoritário, que visa capital político, não a melhoria da educação”.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de SC alerta que “a violência contra professores se tornou sistêmica” e pede políticas públicas de proteção aos educadores, enquanto Manoel Abílio Pacífico, investigado em seis processos criminais, assumiu a presidência do Conselho Comunitário de Segurança do Rio Vermelho, mesmo com questionamentos sobre a legalidade da posse.