
O general da reserva Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira afirmou, em interrogatório ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (28), que esteve reunido com Jair Bolsonaro em novembro de 2022, poucos dias após a vitória de Lula nas eleições.
Segundo o militar, o ex-presidente fez um desabafo sobre o resultado do pleito, mas a reunião, que seria oficial, a pedido do então comandante do Exército, Freire Gomes, não tratou de qualquer articulação golpista.
“Ele reclamou de problemas no processo eleitoral, reclamou até algumas coisas dele próprio. Ele achava que podia ter agido diferente, que poderia ter minorado a sua veemência em algumas coisas”, relatou Theophilo, que é um dos réus da ação penal que investiga a tentativa de reverter o resultado da eleição de 2022. O general faz parte do chamado “núcleo 3”, que reúne militares investigados por suposta participação na trama.
Ainda de acordo com Theophilo, Bolsonaro demonstrava incômodo com limitações de comunicação durante o processo eleitoral. “Ficava incomodado porque não podia falar nada, não podia transmitir live de não sei onde, dizendo que o outro lado podia”, afirmou.
O general disse que o ex-presidente também refletiu sobre sua atuação no governo, reconhecendo falhas e apontando aspectos que poderia ter melhorado para evitar a derrota nas urnas.
“Então, o que ele desabafou foi isso. E, como eu já falei, no prosseguimento ele também conversou sobre o governo dele: o que tinha feito, o que não tinha feito, o que ele poderia, também dentro desse aspecto, ter melhorado para evitar o resultado que acabou tendo nas eleições. Então foi nesse aspecto esse desabafo — situação, particularmente, durante o processo eleitoral”, finalizou ele.
A Procuradoria-Geral da República sustenta que, no mesmo período, integrantes do núcleo 3 participaram de discussões sobre a redação de uma carta com teor golpista destinada aos comandantes das Forças Armadas.
O documento buscaria apoio das forças militares para invalidar o resultado das eleições. A PGR também acusa o grupo de planejar ações que provocassem comoção social para justificar a adoção de medidas de ruptura institucional.
Estão entre os réus do núcleo 3 os coronéis Bernardo Romão Correa Netto, Fabrício Moreira de Bastos e Márcio Nunes de Resende Júnior; os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, Ronald Ferreira de Araújo Júnior e Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros; além do policial federal Wladimir Matos Soares. O general Theophilo é o único da reserva nesse grupo.
O primeiro a prestar depoimento na fase de interrogatórios foi Bernardo Romão Correa Netto. Os demais serão ouvidos por ordem alfabética, todos de forma virtual. Os interrogatórios não presenciais são uma das diferenças em relação ao núcleo 1, formado por ex-assessores diretos de Bolsonaro e militares de alta patente, que compareceram fisicamente ao STF nas semanas anteriores.
Segundo o cronograma do Supremo, todos os réus do núcleo 3 devem estar conectados simultaneamente à sessão virtual. A defesa de cada um poderá acompanhar os depoimentos ao lado de seus clientes, em ambiente reservado, garantindo o direito de intervenção caso necessário.
A investigação conduzida pela PGR e autorizada pelo STF sustenta que os envolvidos se dividiram em núcleos com funções específicas. O núcleo 3, em particular, seria responsável por intermediar ações junto às Forças Armadas e preparar medidas que pudessem viabilizar juridicamente uma ruptura institucional.