
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na última terça-feira (12) em entrevista à Fox News que “tem a obrigação” de processar a BBC, alegando que a emissora britânica “enganou o público” ao editar um discurso seu de forma “deturpada”. O trecho em questão foi exibido no programa Panorama, em um episódio transmitido no ano passado, e, segundo Trump, deu a entender que ele teria incentivado a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
“Acho que tenho a obrigação de fazer isso [processar], você não pode permitir que as pessoas façam isso”, afirmou. Trump disse ainda que a edição o fez parecer um “radical” e que o episódio causou “danos imensuráveis” à sua imagem.
Na última segunda-feira (10), o advogado de Trump enviou uma carta à emissora, estabelecendo um prazo até a próxima sexta-feira (14) para que a BBC se desculpe publicamente e pague uma indenização de US$ 1 bilhão. Caso contrário, a empresa poderá enfrentar uma ação judicial nos Estados Unidos.
US President Donald Trump said that he has an ‘obligation’ to sue BBC for misrepresenting his comments ahead of the Jan. 6, 2021 attacks on the US Capitol https://t.co/uir53bNUYk pic.twitter.com/YYRGhD7QO4
— Reuters (@Reuters) November 12, 2025
O documento acusa a emissora de “difamar Donald Trump ao editar intencionalmente e de forma enganosa o documentário, tentando interferir na eleição presidencial”.
A polêmica gira em torno do episódio “Trump: uma segunda chance?”, exibido no programa Panorama. O discurso de 6 de janeiro de 2021 foi editado de modo a unir trechos separados por quase uma hora de diferença, sugerindo que Trump dizia: “Vamos caminhar até o Capitólio e eu estarei com vocês, e lutaremos. Lutaremos com todas as forças”. Segundo a defesa do presidente, essa montagem deu a impressão de um apelo direto à violência.
A crise gerou uma onda de repercussões dentro da BBC. Na segunda-feira (10), o presidente da emissora, Samir Shah, divulgou uma carta pública pedindo desculpas pelo “erro de julgamento” e reconhecendo que a edição “poderia ser interpretada de forma incorreta”. A emissora afirmou que “analisará a carta e responderá diretamente em tempo oportuno”.
No fim de semana, a controvérsia culminou nas renúncias do diretor-geral da BBC, Tim Davie, e da chefe de notícias, Deborah Turness. Os dois deixaram os cargos após a repercussão negativa do caso e a divulgação de um memorando interno do ex-conselheiro Michael Prescott, que apontava falhas recorrentes na linha editorial da emissora.
O documento citava, além do episódio com Trump, a cobertura de temas sensíveis como a guerra em Gaza e debates sobre pessoas transgênero.
Segundo a agência Reuters, o relatório interno da BBC confirmou que “a forma como o discurso foi editado deu a impressão de um apelo direto à violência”, embora não tenha encontrado indícios de motivação política. O caso reacendeu o debate sobre ética jornalística e o papel das emissoras públicas em períodos eleitorais.