Vinícola Salton, que usa trabalho escravo, distribui vinho para missas em todo o Brasil

Atualizado em 1 de março de 2023 às 21:03
Vinho canônico é o apropriado para a celebração de missas na Igreja Católica. Divulgação

 

Flagrada com trabalho escravo, a Salton é uma das principais vinícolas responsáveis por distribuir vinho para missas em todo o Brasil. Conhecido como vinho canônico ou litúrgico, a bebida utilizada durante a celebração católica só pode ser produzida com a autorização da igreja, obedecendo uma série de critérios.

O vinho é parecido com um licor e “deve ser natural, fruto da videira, puro e sem substâncias estranhas”. Tem como característica ser rosado licoroso doce com elevado teor alcoólico, o da Salton tem 16%. Isso ajuda a conservar a bebida, que não leva conservantes. A bebida da vinícola gaúcha é composta pelas uvas Moscato, Saint-Émilion e Isabel e é feita a partir da fermentação do mosto da fruta.

Após o esmagamento das uvas, o mosto é fermentado em contato com a película com adição de fermentos selecionados. Terminada a fermentação, o vinho é clarificado, filtrado e recebe uma dose de mosto concentrado da uva e álcool vínico, produtos oriundos da própria uva. O processo dura seis meses e é realizado em tanques de inox.

As igrejas, então, recebem o vinho para a realização da eucaristia. O ritual relembra o ato de Jesus Cristo, descrito na Bíblia, de partilhar com seus apóstolos o pão e o vinho, como representação de seu corpo e sangue.

No Rio Grande do Sul, Estado que responde por 90% da produção brasileira de vinhos, cinco empresas fornecem para esse nicho de mercado. A Salton foi a vinícola pioneira na produção do vinho canônico, iniciando sua fabricação na década de 1920. Apesar de representar apenas 1,3% da receita da empresa, o licoroso continua em linha. São distribuídos cerca de 300 mil litros por ano.

A empresa de Bento Gonçalves detém mais da metade desse mercado no país. Oitenta por cento do volume produzido pela empresa é comercializado para as paróquias e os 20% restantes para diversos tipos de consumidores.

Espaços onde eram mantidos os trabalhadores de vinícolas em Bento Gonçalves (RS). Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

Nesta quarta (22), mais de 200 pessoas foram resgatadas durante uma operação policial em Bento Gonçalves. Segundo a PF e o MTE, a empresa Oliveira & Santana mantinha o trabalho escravo e possuía contratos com vinícolas famosas da região, entre elas a Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em que fornecia mão de obra para a colheita de uva.

A vinícola Salton alega que não tinha conhecimento das irregularidades praticadas pela empresa terceirizada com a qual tinham parceria.  O responsável por essa empresa, Pedro Augusto de Oliveira Santana, de 45 anos, natural de Valente (BA), chegou a ser preso, mas vai responder pelo crime em liberdade porque pagou fiança no valor de R$ 40 mil.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link